O Gigante Acordou… E Agora Brasil? A Mudança de Status foi Permanente?

Voltei da China e encontrei meu mural do FB (porque o Facebook é proibido no país de Mao) recheado de fotos de uma manifestação linda que aconteceu ao redor de todo o país durante a segunda-feira, dia 17 de junho de 2013. Depois de uma repressão violenta de uma polícia mal-preparada, os brasileiros saíram às ruas aos milhares, formando uma linda e, em sua maioria, pacífica massa na qual exigia condições melhores…

O movimento começou como um protesto contra o aumento das tarifas dos transportes públicos em São Paulo, que passariam dos R$ 3,00 aos R$ 3,20. Vamos lembrar que na cidade de São Paulo existe o Bilhete Único, que permite que o seu usuário fazer quatro viagens (de metrô ou ônibus) em um período de 3 horas, pagando uma única tarifa. Do protesto, fizeram parte pessoas que não usam o transporte público, entre eles estudantes e profissionais que têm seus carros. Os R$ 0,20 foram a última gota de água em um copo de uma população tão sufocada por impostos, por uma inflação velada, pela violência, pelo descaso com a população que sustenta seus governadores omissos e manipuladores, que não tinha outra forma a não ser transbordar. A corda pode ser elástica, mas se você puxar muito, se fizer muita pressão, ela vai arrebentar. É a lei da física.

As redes sociais difundiram rapidamente esse movimento que se espalhou pelo mundo em nada de tempo. De repente, o Brasil ficou famoso não somente pelo seu futebol, pelo carnaval, pelas bundas, mulheres e praias, mas porque seu povo foi às ruas manifestar por seus direitos. De repente, frases como do you really think it’s just about 20 cents? (você realmente acredita que isso tudo é por causa de só 20 centavos?), #MudaBrasil, #ChangeBrazil e o gigante acordou começaram a ser utilizadas massivamente, carregadas no peito, com muito orgulho.

Mas, e agora?

Isso parece uma repetição da história… O brasileiro sai às ruas, luta por algo, é manipulado por meios de comunicação e partidos que têm objetivos secundários e egoístas (que não é o bem estar da população) e volta a se sentar em seus sofás, em frente a televisão. Vi isso com o movimento do fim da ditadura de 1985 (no qual, devido a morte de Tancredo Neves, presidente eleito da época, José Sarney, o maranhense que todos crucificam se tornou presidente) e com o impeachment do Collor, movimento altamente manipulado, que foi substituído pelo Itamar Franco.

Acredito que essa manifestação, a de 2013, atingiu um ponto no qual a mídia manipuladora não pode se dar ao luxo de dizer que é contra; mas também acredito que esse é um ponto no qual a mídia pode tentar controlá-lo para que seus objetivos sejam atingidos e no qual todos os partidos políticos tentarão manipular um povo que, agora, decidiu acordar. E esse é um momento crucial, no qual cada pessoa, cada indivíduo tem que se policiar para não deixar ser manipulado por meios que têm objetivos egoístas e não o melhor da população. Por isso, o chavão “O Gigante Acordou” me dá um pouco de medo…

Falo do “pensamento de horda”, ou “pensamento de rebanho”. Esse termo faz referencia ao comportamento de rebanho que o ser humano tende a demonstrar quando existe uma concentração muito grande de pessoas: no caso de São Paulo, aproximadamente vinte homens da tropa de choque da Polícia Militar foram responsáveis pelo início dos atos de violência na quinta-feira e isso atingiu um nível repressor, no qual jornalistas e pedestres eram atacados, aleatoriamente. Nesse caso, o comportamento desses vinte e poucos homens serviu como exemplo para que muitos outros demonstrassem atos violentos e de repressão.

A teoria do rebanho é discutida por filósofos e psicólogos, desde Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Carl Jung (o inconsciente coletivo) até Wilfred Trotter (que popularizou o termo herd behaviour em seu livro Instincts of the Herd in Peace and War de 1914) e Thorstein Veblen que explicou o mesmo comportamento aplicado à economia em seu livro The Theory of the Leisure Class, no qual discursa que a população tem a tendência se imitar o comportamento de pessoas da sociedade que possuem um status mais alto.

Infelizmente, esse comportamento é uma tendência do ser humano e, por isso, nesse exato momento, o brasileiro que saiu às ruas tem que tomar cuidado para não voltar a ser simplesmente um peão no meio de um jogo de poder. Acho muito justo a população sair às ruas para se manifestar e achei emocionante a revolta pacífica de todos os milhares de brasileiros que saíram às ruas nessa segunda-feira 17 de junho de 2013. Também acho que não se deve generalizar o comportamento da Polícia Militar de São Paulo e que assim como os vinte e poucos policiais responsáveis pelo início da violência no cruzamento da Maria Antônia com a Rua da Consolação devam sem identificados e punidos, cada PM que praticou atos de violência e cada manifestante responsável por atos de vandalismo também devam arcar com as responsabilidades de seus atos. Porque não devemos esquecer que pessoas mal-intencionadas estiveram presentes nos dois lados e que a violência foi conseqüência disso: o problema é que a PM tem acesso a armas mais poderosas.

Sinceramente, sou contra a idéia do transporte público gratuito (o transporte não é gratuito nem na China, país teoricamente socialista) e da distribuição irrestrita de bolsas-auxílio que não servem para nada. São soluções utópicas e temporárias, band-aids usados para aumentar o nível de vida de uma camada da população ao custo da opressão financeira de outra camada, a classe média. As bolsas-auxílio (ou bolsas-esmola) são subornos para manter essa camada pobre da população calada e anestesiada em relação aos verdadeiros problemas que atingem a sociedade.

Sou a favor do aumento do salário dos professores, médicos, policiais e bombeiros, da classe de profissionais responsáveis pela segurança, saúde e educação do meu país. Acredito que tenha que haver um sistema de escolarização e educação para que todas as pessoas tenham acesso a informação e possam lutar por condições melhores. Entendo que essa é uma solução a longo prazo, mas acredito que ela possa ser aplicada a médio prazo a medida que deveriam existir cursos noturnos de qualidade para a camada da população que trabalhasse durante o dia e ainda tivesse interesse em estudar e melhorar de vida. A volta às suas casas deveria ser assegurada por uma polícia eficiente e bem paga. Sou à favor de igualdade de condições através da igualdade de acesso aos meios e não simplesmente da igualdade de condições em detrimento da qualidade de vida de outros. Isso não é justo.

Você trabalhou o dia inteiro e não quer estudar? Sinto muito, isso é problema seu; fiz isso durante a faculdade e acredito que se você almeja uma vida melhor, o sacrifício tem que vir da sua parte. Não coloque nas minhas costas a responsabilidade de fazer com que você tenha uma vida melhor. As coisas não funcionam assim. Saia do seu berço esplêndido e lute por um futuro melhor todos os dias e não somente um. Simples assim.

Chegou a hora de mudar. Chegou a hora de entender que as mudanças acontecem e que cada um de nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Chegou a hora de crescer e assumir responsabilidade, entendendo que o mundo não é responsável por nos dar o pão que nos alimenta. Nós somos responsáveis por plantar o trigo e assar o pão. É assim que funciona. Muda Brasil. Eu tenho fé que os ventos da mudança vieram para ficar e com ele vieram a conscientização de um povo oprimido por anos. Quem sabe o futuro não chegou?

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Trotamundos by Tati Sato is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.
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