Wikipedia define backpacking – o termo em inglês para mochilar – como uma forma de viagem, de baixo custo e independente (de agências de viagem).
Qualquer um pode mochilar. A primeira viagem independente que fiz sozinha, pagando com o meu suado dinheiro, foi para a Europa em 2005. Pesquisei preços de seguros de viagem e passagens aéreas – SPO-BCN-SPO, BCN/Paris, Paris/Stuttgart, Stuttgart/BCN – e busquei hostels/albergues em Paris, a única cidade onde não teria hospedagem. Com euros no bolso suficientes para que pudesse me divertir e conhecer lugares, parti para minha primeira grande aventura pelo mundo.
Concordo com a definição do Wikipedia, mas, para mim, mochilar também é sinônimo de conhecer, somar e compartilhar. É conhecer novos lugares, povos, costumes e pessoas e somar experiências. É conhecer pessoas aleatoriamente, com as quais se compartilhe experiências em uma mesa de bar, no café da manhã ou até mesmo em uma parte da viagem. Pela minha experiência, esses mochileiros marcam nossas vidas e dão um toque especial na viagem. Alguns permanecem e outros seguem seus caminhos, mas aquele momento fica gravado. Pelo menos, para mim, esses momentos têm um espaço especial no meu coração.
Encontrei inúmeros mochileiros nas minhas viagens. Dividi experiências ao redor de uma mesa de jantar, como foi o caso em Eco Beach, em Bali, me deram um anti-histamínico que tinham em Koh Tao, na Tailândia ou simplesmente nos sentamos por alguns momentos para algum café em qualquer cidade do mundo. Não lembro a maioria de seus nomes, mas lembro das suas histórias. Lembro que me contaram de suas experiências em um ringue de sumo ou mesmo da viagem que estavam fazendo pelo sudeste asiático e me lembro da ilusão com a que chegavam a um lugar novo ou com a qual partiam para um novo destino.
Eu, no entanto, não acredito que mochilar inclua passar mal. Mochileiros sempre passarão por algum perrengue, mas, para mim, devem ser histórias das que vamos rir depois – ou mesmo no momento. Acho que todo mochileiro deva ter dinheiro suficiente para não mendigar ou ter um plano de contingência se algo der muito errado no meio do caminho. Passar perrengue, sim. Passar mal, nunca.
Sobre os meus perrengues, lembro que decidi sair na minha última noite em Berlim. Meu vôo saia do aeroporto de Schönefeld e vi que havia um trem que saia do centro e chegaria ao aeroporto em 20 minutos.
Estava cansada e dormi no trem. Pensei que a parada final seria o aeroporto e dormi o sono dos justos. Quando acordei e vi o relógio, percebi que havia passado uns 25 minutos. Era estranho que não houvéssemos chegado: as previsões de saída e chegadas de trens na Alemanha costumam ser bastante precisos.
Perguntei ao meu redor se alguém falava inglês. Ninguém. Alemão não é um idioma que domine, mas aeroporto eu sei – flughafen. Sorri e disse “flughafen Schönefeld?”. Por mímica, entendi que havia passado. Meu coração congelou. Tinha saído em tempo de pegar o avião – se houvesse descido na parada correta.
Desci em um povoado no meio do nada. A estação do trem eram dois trilhos, as suas correspondentes plataformas e uma casa de máquinas. Um senhor consertava algo no trilho oposto. “Flughafen Schönefeld?”, gritei. Ele fez um gesto. Olhei na Internet – bendita salvadora dos mochileiros sem noção!: o próximo trem demoraria uns 20 minutos e perderia meu vôo.
Naquele momento, o preconceito que tinha de que todos os alemães falavam inglês tinha caído por terra completamente. O rapaz que estava na casa de máquinas não falava inglês e eu não conseguia me comunicar para pedir um táxi. Estava perdida em um povoado na Alemanha e ninguém me entendia!
Na saída para o estacionamento, encontrei uma menina que chegava. Perguntei se ela falava inglês – outra das frases úteis que sei em alemão – e ela falou que sim. Bendito anjo! Fomos à casa de máquinas e ela traduziu minha situação. Em alguns minutos chegou o táxi e cheguei ao tal Flughafen Schönefeld a tempo justo de embarcar. Final feliz.
Há muitas formas de mochilar pelo mundo, mas todas elas são sobre auto-descobrimento e diversão. Pouco a pouco, vou comentando as formas que conheço e as que experimentei. Nem sempre o que considero bom será suficiente para outros, mas é um ponto de vista.
Coloquem a mochila nos ombros ou levem uma mala de rodinha. Como diria Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena.

Viajando… ❤ What lies beneath the clouds (o que há depois das nuvens)
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