Trotamundos mochileiro: o planejamento

Como comentei no meu último post Trotamundos mochileiro: o que e mochilar?, acho que um mochileiro deva planejar sua viagem e ter dinheiro suficiente para completá-la. Honestamente, acho ridículos os mochileiros que, no meio da sua viagem, se sentam em algum lugar com uma plaquinha “me ajude a financiar minha viagem ao redor do mundo”. Quêeeeeeee?

Por favor, não seja esse tipo de pessoa e se planeje antes de pegar um avião e ir ao outro lado do mundo. Parece obvio, mas, infelizmente, há infelizes pessoas que fazem isso – e são chamados de beg-packers, uma combinação das palavras em inglês beg, que é mendigar, e backpackers, que significa mochileiros. Dois dos artigos que li, ambos em espanhol, podem ser encontrados nos links aqui e aqui. Em português, os chamaria de mendileiros ou mochidigos.

Honestamente, mendigar esperando que estranhos financiem sua viagem é patético. Muitas pessoas mendigam porque não têm nada e precisam desse dinheiro para cobrir suas necessidades básicas, como comer ou ter um teto sobre suas cabeças. Viajar não é uma necessidade básica, muito menos um direito adquirido. Por mais agradável e enriquecedor que seja, viajar é um luxo e ninguém tem a obrigação de pagá-lo por você. Seus documentos estão em ordem? Então, o próximo passo é planejar, ou seja, saber para onde se vai, por quanto tempo e quantodinheiro – é preciso levar.

01-) Conheça seu destino – onde:

Ainda que pareça óbvio, definir o destino é fundamental para iniciar uma viagem. Quando já se tem o “onde”, fica mais fácil planejar o que veremos, quanto tempo ficaremos no destino e já temos um ponto de partida para calcular o quanto nos pode custar a viagem. De repente, seu sonho é conhecer a Torre Eiffel. Então seu destino será Paris.

A partir desse momento, já se pode pesquisar sobre o que a cidade e o país têm a oferecer e quais atividades parecem as mais interessantes. Há muitos sites e dicas na internet com dicas atualizadas sobre o local desejado.

Lembre-se de investigar quais são os requerimentos burocráticos para a sua entrada no país: é preciso pedir visto antecipadamente? Que vacinas preciso tomar? Estar vacinado contra a febre-amarela é necessário? Preciso levar minha carteira de vacinação internacional? Quase tive minha entrada na Tailândia vetada porque não tinha sido vacinada contra a febre-amarela. O Brasil encontra-se em uma das áreas de risco e a única coisa que me salvou foi o fato de que eu não vivia mais lá.

02-) Calcule o tempo da sua viagem – quanto tempo:

Nem sempre é possível abandonar tudo para dar a volta ao mundo. Há muita gente que faz e a tecnologia permite que os nômades digitais possam exercer suas profissões em qualquer lugar, desde que tenham uma boa conexão de Internet. Há quem tire um tempo sabático e decide viajar por muito tempo – leiam sobre como essas viagens podem ser financiadas no próximo item.

No entanto, eu não sou desprendida suficiente para viver só com o conteúdo da minha mochila; gosto de ter minha casa, meus gatos e um trabalho que me deposite um valor pré-acordado todos os meses na minha conta (também conhecido por salário). Se você for como eu, podemos viajar somente nas férias.

No Brasil, segundo a reforma trabalhista, as férias podem ser divididas em até três períodos sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um.

Tendo isso em mente, o destino escolhido no item 01 tem que se encaixar no tempo disponível. Isso quer dizer que dez dias – cinco dias, dois fins de semana e algum feriado – possa ser suficiente para Miami, NYC ou Paris, mas acredito que ele seja muito justo para uma viagem ao Japão ou para um mochilão pela Europa.

Em viagens intercontinentais, acho importante ter em conta que mais ou menos 24 horas serão gastas em cada um dos trajetos de ida e de volta. Parece muito, né? Não é. O tempo de viagem de um voo direto São Paulo-Madrid é de aproximadamente 10,5 horas. Em voos internacionais, é aconselhável chegar ao aeroporto com 3 horas de antecedência. Some a isso os tempos da fila da imigração na chegada, do recolhimento da bagagem na esteira e a ida ao hotel/hostel/apartamento e tudo isso pode chegar tranquilamente a 16 horas. Em voos com escala ou para o outro lado do mundo, esse tempo pode ser muito maior. E, nessa brincadeira, dois dias das nossas férias foram para o saco.

Caso você estime que o tempo que você necessita para conhecer seu destino será maior do que o período disponível, deixa a viagem dos seus sonhos para outro ano. Sempre haverá outras oportunidades. =)

03-) Os fundos disponíveis – quanto (dinheiro) levar:

Muitos de nós gostaría de viajar por um tempo indeterminado com uma quantidade de fundos ilimitada. Enquanto não ganhamos a Mega-Sena ou o Euromillion acumulados, a maioria deve trabalhar para pagar a maioria dos nossos gastos que incluem os gastos investimentos em viagem.

Digo maioria dos gastos porque há muitos programas que ajudam o mochileiro a minimizar seus gastos com hospedagem como o Workaway, o Worldpackers e o WWOOF que permitem que o viajante se registre e possa encontrar hospedagem em vários lugares do mundo em troca de trabalho. Há também empregos em companhias de cruzeiro, mas as visitas ficariam restritas às cidades onde o barco atracaria.

Além dos gastos com hospedagem que podem ser minimizados, há outros fatores que devemos ter em conta quando decidimos colocar uma mochila nas costas e sair pelo mundo, pelo tempo que for – a não ser que você trabalhe em cruzeiro.

Esses fatores são:

  • Passagens aéreas, marítima e terrestres de uma cidade a outra.
  • Seguro-viagem: é caro, consome uma parte do orçamento, mas é importante. Na melhor das hipóteses, ele não será usado, mas, no caso de acidente ou perda de bagagem, ele pode ser um salva-vidas.
  • Vistos e vacinas, se precisos.
  • Gastos diários na moeda local do lugar que visitaremos: valor que inclua refeições, transporte na cidade – ônibus, metrô, táxi, tuk-tuk, jeepney ou qualquer que seja -, atrações a visitar e eventuais souvenires e compras que possamos querer.
  • Dinheiro extra e intocável: em torno de 200 a 300 euros, guardado para o caso de haver alguma emergência que o seguro-viagem não cubra. Um exemplo de uma emergência? Algo ocorreu no Brasil e você precisa mudar a sua data de passagem.

Abram um Excel ou comprem um caderninho para fazer suas contas e mãos à obra.

O valor diário é complicado de se calcular porque ele depende das vontades e necessidades de cada um. Há muitos sites com informação do quanto é o mínimo necessário para visitar uma cidade, mas cada país costuma ter um valor mínimo orientativo estipulado. Na Espanha, por exemplo, cada turista deve ter € 70,77 por dia com o mínimo de € 636,93 (valor equivalente a 9 dias com € 70,77/pessoa/dia) ou o seu valor equivalente em moeda estrangeira, segundo o Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação. É importante ressaltar que sem essa quantia mínima, o turista pode ter sua admissão no país negada. Ou seja, o turista pode ser deportado.

Mas… Como posso economizar tudo isso?

Não vou ser hipócrita e dizer que economizar é fácil: para mim, não é. Quando planejei minha primeira, de São Paulo para a Europa sozinha, parcelei o preço da passagem aérea e separava um pouco de dinheiro todos os meses – além de usar meu 13o salário – para a compra dos euros.

Talvez, haja a necessidade de sair menos com os amigos e gastar menos nessas saídas ou talvez seja necessário fazer um plano para poupar – como o desafio das 52 semanas. Talvez ambos sejam necessários. Talvez seja preciso arrumar um segundo trabalho, nem que seja temporariamente. O importante é se focar no objetivo, que é viajar, e fazer planos para atingi-lo – e se o plano não der certo, mudar de plano! Para mim, só não vale mendigar no meio da viagem.

Fonte: Trotamundos by Tati Sato

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