Sobreviventes: Um Acampamento e eu (em Zambales, Filipinas)

Acampamento é uma atividade que eu nunca pensei que fosse para mim. Eu me conheço bem o suficiente para entender que acampamentos fogem da minha zona de conforto por kilômetros; perdão, por anos luz. Acampamentos e eu habitamos duas galáxias completamente diferentes, separadas por cinco buracos negros e uma infinidade de planetas. É essa a distância entre a minha zona de conforto e acampamentos.

Quem me conhece, entende plenamente o que eu escrevi. Quem não me conhece, prazer, eu sou uma pessoa urbana. Por urbana, não digo que seja o tipo de pessoa que só gosta de cidades grandes e de shopping centers, mas sou o tipo de pessoa que gosta de viver com um mínimo de conforto. Quando digo mínimo, quero dizer uma cama razoavelmente limpa e um banheiro onde possa tomar banho, lavar a cabeça e me sentar, quando necessário. Acho que depois de 30 e tantos anos de vida, já adquiri o direito e tenho possibilidades financeiras para tanto.

Mas, como desde que cheguei às Filipinas faço coisas fora da minha zona de conforto, decidi tentar ir a um acampamento quando me chamaram para uma viagem de fim de semana à Zambales.

Zambales é uma região linda. Localizada ao norte de Manila, a região tem praias cuja água é tão transparente que parece uma enorme piscina.

A viagem saiu bem barata. O total da viagem foi aproximadamente PHP 2,500.00 (quase EUR 50) por pessoa e incluía tudo, até o passeio de barco que fizemos no domingo de manhã. No entanto, como eu disse, era um acampamento…

Uma das barracas e as redes, o grupo que foi ao camping e tentando fazer a fogueira!

Uma das barracas e as redes, o grupo que foi ao camping e tentando fazer a fogueira!

Tudo era organizado: um barco nos pegava na praia, a barraca era alugada no local, compramos a comida que nos era preparada e levada ao acampamento, duas vezes ao dia, a cerveja e a água foram levadas ao acampamento com o barco, etc. Portanto, não tivemos que nos preocupar com muita coisa. E como havia banheiros(embora eu não fosse sentar em nenhum) e locais onde podíamos tirar a água salgada do mar com um balde (não havia chuveiros, mas enchíamos baldes de água) no local também, muita gente chamaria essa experiência de acampamento light. Na minha opinião, era hard core, mas essa é uma questão de pontos de vista… Enfim…

A viagem de Manila até Zambales, com a companhia Victory Line, estação EDSA, custou aproximadamente PHP 207 e durou 4,5 horas. Diferente de outras cidades que eu visitei, em Manila não existe uma estação de ônibus central na qual ônibus de várias companhias saem para diversos destinos. Em Manila, existem várias estações de ônibus, cada uma pertencente a uma companhia; e cada companhia faz um trajeto diferente. Por exemplo, da Victory Line que está na EDSA, saem ônibus para Zambales e para Baguio. Outras companhias que estão localizadas ao longo da EDSA ou em Cubao (até onde eu sei são as duas regiões de onde saem os ônibus intramunicipais) fazem outros trajetos. Sim, viajar dentro das Filipinas, em ônibus, sem uma pessoa local para te acompanhar pode ser um pesadelo. Se você não fala o tagalog, o pesadelo será ainda maior e a será necessário ter muita paciência. Muita paciência mesmo.

Estava com uma camisa branca e shorts jeans. Durante o trajeto até a praia do camping, eu me molhei inteira. Como o barco não parava de jogar água em mim, toda a minha roupa estava encharcada no momento que eu desci do barco para o camping. A minha camisa estava tão molhada que ela já tinha a cor da minha pele. Enquanto isso, minha amiga ficava me perguntando se eu não queria uma outra blusa para me tampar porque os filipinos não estavam acostumados com aquilo.

A verdade é que a maioria das filipinas que eu vi vão à praia com manga comprida. Sim, isso é um choque. O fato é que a maioria dos asiáticos têm o sonho de serem brancos como vampiros e ficarem bronzeados (ou mais bronzeados, como seria o caso dos filipinos) pode ser um dos seus maiores pesadelos. Essa minha amiga disse que eles não estão acostumados com a nudez tampouco, mas eu não estava participando do Wet T-Shirt Contest (concurso da camiseta molhada) por vontade própria…

Naquele momento, torcia para que a região estivesse seca o suficiente e não houvesse um rio por perto porque, assim, era muito possível que não houvesse sapos (ou assim eu esperava) já que tenho pavor desse anfíbio. É algo que foge ao meu controle: quando vejo uma dessas coisas gosmentas, eu simplesmente não consigo me conter e grito escandalosamente alto.

As barracas foram montadas (acampamento light, lembrem-se), compramos duas redes (uma delas era minha! AMO!) e três de nós foram à praia enquanto os outros ficaram tomando cervejas no acampamento.

Eu dormi na praia. Estava super cansada porque só tinha dormido na viagem de ônibus. E, quando doía algo, eu me virava. Embora estivesse com protetor solar, acabei ficando mais bronzeada do que já estava e, para mim que cresci com o pensamento ocidental, ficar bronzeada é algo que eu adoro: essa idéia de estar na areia, em cima da minha canga, virando de um lado para outro é meu ideal de férias relaxantes.

Voltamos ao acampamento e me deitei na rede. Voltei a dormir. Acho que sobrevivi ao camping porque meu corpo estava tão fatigado que só queria dormir…

O problema era o banheiro. Eu não queria ir ao banheiro! Disse ao meu corpo inúmeras vezes que ele teria que segurar durante o fim de semana, que no domingo à noite voltaríamos para casa e estaria tudo bem. Me falaram que banana ajudava. Comi duas. O problema é que meu corpo funciona como um relógio e, à meia-noite eu minha cabeça doía e precisei ir ao banheiro… Mas como ir ao banheiro sem luz?

Pensei em ir no meio do mato porque seria mais limpo… Mas então duas amigas decidiram me acompanhar e fomos, utilizando meu celular como lanterna, ao banheiro. Quando saí do cubículo apertado e semi-iluminado, me lavei e esperei outra amiga. No caminho de volta ao acampamento, um pouco mais aliviada, era a responsável pela lanterna. Quando, de repente, vejo um sapo.

Já disse que o meu pavor de sapos é comparado a muitas fobias que existem pelo mundo. Como existem pessoas que não sobem em avião nem mortas, meu coração dispara e o grito que sai da minha boca é iminente. O meu grito foi tão alto que quem não estava desmaiado por causa da bebida, acordou. Naquele momento, uma das minhas mãos estava ocupada e, com a outra, agarrei uma das minhas amigas e saímos correndo, deixando a outra para trás. Voltamos para pegá-la quando ela começou a gritar desesperada, no escuro.

Nesse meio-tempo, passamos por várias pessoas que estavam desmaiadas no chão. Como entre elas e o solo não havia nada, supus que estivessem bêbadas. Talvez seja esse o motivo pelo qual a maioria das pessoas sobrevive a esse contato íntimo com a natureza: o nível etílico no sangue (ou melhor, o nível de sangue no álcool). Bem, isso é uma teoria que eu não pretendo desenvolver porque necessitaria de extensiva pesquisa de campo…

O dia seguinte foi ótimo: saímos em um barco para conhecer duas ilhas próximas a Anawangin (o camping onde estávamos, acredito). Levamos o café-da-manhã (ovos, salsichas e pão) e o almoço (arroz – porque sempre tem que ter arroz em uma refeição filipina, vegetais, ovo cozido e salsicha) para o passeio. Mergulhamos nas águas transparentes do Mar da China e nos divertimos muito (pelo menos aqueles que tinham dormido o suficiente! ¨_*).

A praia onde chegamos, o pôr-do-sol incrível da praia onde estávamos acampados, Capone's Island, a água (sim, é assim de clara... É assim de transparente!), uma praia isolada (só se chegava lá nadando) e o barco que nos deixou: "fui expulsa da ilha de Survivors!" =D

A praia onde chegamos, o pôr-do-sol incrível da praia onde estávamos acampados, Capone’s Island, a água (sim, é assim de clara… É assim de transparente!), uma praia isolada (só se chegava lá nadando) e o barco que nos deixou: “fui expulsa da ilha de Survivors!” =D

Três de nós voltaram à Manila nesse mesmo dia. Ao descer do barco, na praia que havíamos embarcado no dia anterior, feliz da vida, disse “fui expulsa da ilha de Survivors!”. Meus amigos me olharam e disseram “Tati, você é a única pessoa que está feliz por isso…”. É… Realmente acho que não nasci para esse contato tão íntimo com a natureza chamado acampamento. E jamais na vida aplicaria para o Survivors… Hoje eu tenho certeza disso!

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O pacote foi fechado por uma amiga. Um dos links que ela me enviou é http://lovekoanawangin.wordpress.com/anawangin-package/anawangin-tour-package-with-van-service/. Como é muito mais fácil negociar preços se você é filipino (muitos negociantes fazem de conta que não entendem o inglês para que você, como estrangeiro, pague mais), o nosso pacote saiu mais barato! =)

Outro site que eu conheço de viagens nas Filipinas (e no sudeste asiático) é o http://travelfactor.org/. Ainda não fechei nenhum pacote por eles, mas um dos fundadores do grupo é um conhecido meu. Os lugares parecem (e devem ser) incríveis e os preços são acessíveis. Quando eu for em algum deles, postarei!

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