RENT 

Há muito mais de 20 anos, Jonathan Larson escrevia RENT enquanto trabalhava como garçom em NYC para pagar suas contas. Não sei se ele tinha idéia do sucesso que o musical teria, mas espero que ele tenha visto, do céu, quando foi premiado com o Tony Awards, o Oscar do teatro: ele faleceu um dia antes que o musical estreasse na Broadway.

Em 1999 (obrigada por me lembrarem de quanto tempo passou e de quão velha estou, Giu e Dê! 😂), RENT estreou no Teatro Ópera, em São Paulo. Acho que foi o primeiro musical da Broadway que estreou no Brasil, com elenco brasileiro e canções em português.

No começo, eu não queria assisti-lo: as canções seriam traduzidas e RENT era meu musical favorito, aquele com o qual me identifiquei desde que ouvi a frase “what happened to Benny, what happened to his heart“(*) na Saraiva Music Hall, no Shopping Eldorado. Ver sua versão traduzida antes de ter visto o original, na Broadway, seria torturante…

Cara, estou desenterrando memórias, mas esse musical de Jonathan Larson, que continua sendo um dos meus musicais favoritos, completou 20 anos em 2016 e recém reestreou em São Paulo (entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017). Quando vi as fotos que amigas minhas subiram ao FB quando foram ver a nova versão em São Paulo, minha empoeirada gaveta de memórias se (abriu) escancarou: memórias voltaram à minha mente com a velocidade relâmpago. Como relembrar é viver, decidi compartilhar essa memória de um passado distante.

Acabei por assistir a versão brasileira de RENT, algumas semana antes que encerrassem as apresentações, quando meu amigo Hélio ligou da bilheteria “comprei o seu ingresso de RENT que começa em 30 minutos. Saia de casa já”. Não tinha opção e fui sem saber o impacto que uma apresentação teria no meu então dia-a-dia.

Meu sonho era ver o musical na Broadway, mas nunca pude – na minha última visita a Nova York, ele estava em teatros off-Broadway e não o conhecia. Em 1999, no entanto, já conhecia todas as músicas e todas as letras: Mark, Roger, Mimi, Maureen, Joanne, Angel, Collins e Benny já eram parte da minha vida. A versão brasileira, por sua vez, superou tanto as minhas ínfimas expectativas que, daquele fim de semana ao final das apresentações, meus fins de semana se resumiam a ir ao Teatro Ópera e assistir RENT. “Quinhentos e vinte cinco mil e seiscentos minutos… Como se mede um ano a mais? (…) Meça em amor.” “Me aceite como sou… Nasci pra ser assim! Seja parte do meu show ou esqueça de mim”…

Durante essas idas, me apaixonei pelo ator que interpretava o Mark. Não sei se me apaixonei pelo Jarbas como pessoa ou porque ele transformou o Mark, um personagem que até aquele momento considerava sem sal, em um personagem com coração – essa parte da história nunca ficou clara na minha cabeça. Enfim, o fato é que o Mark/Jarbas virou meu crush na época. Tampouco lembro muito bem como, mas conheci o elenco. E conheci o Jarbas que, de certa forma, se tornou um amigo naquela época.

Saíamos com certa frequência, aos sábados, para almoçar. Para mim, o Jarbas era homossexual então a minha paixonite era platônica. Mas estava feliz assim. O Jarbas me levou para conhecer o backstage de RENT, íamos a restaurantes e passávamos uns bons momentos, conversando. Fui convidada à festa de encerramento de RENT e fui a outra peça mais do Jarbas, uma em que ele fazia o Monteiro Lobato. E, assim como começou do nada, nossa amizade também acabou de forma súbita.

Não acho que ele se lembraria de mim; honestamente, há partes de mim que acha que ele sempre me tratou como uma fã porque a memória é assim: prega peças. Tudo bem porque estou em uma fase na que curto as minhas histórias de adolescente e amores platônicos que eu vivi; por mais drama que tenha sido na época, hoje é uma lembrança divertida.

Jarbas se casou. Para minha surpresa, sua parceira atual é a Cláudia Raia. Quando li, um pedacinho de mim sentiu uma pequena lástima por ser ela e não eu – acho que é normal, né? #ClaudiaRaiaIEnvyYou. Mas esse sentimento passou: hoje, sei que minha vida é como deveria ter sido sempre! 😊

(*) “what happened to Benny, what happened to his heart“: o que houve com Benny e com seu coração… Ah, essa frase… Em algum lugar da década de 90, uma versão minha mais nova estava namorando. Seu primeiro namorado se chamava Benny e, por um ano (que pareceu muito mais na época), ficamos entre constantes brigas e voltas. Tínhamos terminado quando, na Saraiva Music Hall, escutei o CD e ouvi a frase: foi o suficiente para me fazer comprá-lo. E foi amor para a vida toda – pelo musical.

Outro dia, li que rent, além de aluguel, quer dizer dilacerado (torn apart). Como não amar o musical e seus significados?

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