Há tanto que não escrevo para o Trotamundos que acabei por acumular muitas histórias, algumas viagens e situações de vida. Quem acompanha esse meu diário de bordo sabe que diversas vezes um forte desespero me abate e eu caio no buraco do coelho de Alice, perseguindo um peludo branco que carrega um relógio e está sempre atrasado. Esses momentos não são legais no sentido de “divertidos”, mas são ocasionais e têm duração determinada. Muitas vezes são, inclusive, necessários – só não posso me permitir ficar lá para sempre; levantar-se é preciso. Sacudir a poeira e seguir em frente também, afinal, a vida segue e não há retornos nesse caminho.
Mais de um ano se passou desde que eu cheguei a Madrid. No último outubro, comecei um mestrado em Finanças e Contabilidade, algo que ocupou minhas tardes de sexta e manhãs de sábado. Outubro, por sinal, foi um bom mês: havia recém saído de uma das minhas crises de buraco do coelho e havia recém mudado para um apartamento que chamaria de meu. Amo minha sogra, mas morar com ela não dá simplesmente porque conviver é duro. O problema de se começar um mestrado era que, obviamente, meu fim de semana ficaria reduzido a um dia. Só um dia para acordar sem despertador. Parecia desalentador, mas meus colegas de classe são ótimos e as aulas, dinâmicas, fatores que ajudaram a minha adaptação em acordar cedo nos sábados: ainda não gosto de acordar com despertador 6/7 dias da semana – acho que nunca vou, de fato, “gostar” -, mas não é tão ruim.

Alguns dos meus livros de cabeceira até setembro de 2017! 😱
Além disso, é um bom investimento, tanto de tempo quanto de dinheiro. Nesse ano na Espanha, percebi que há uma grande valorização de diploma. Ainda que você tenha mil anos-luz de experiência, tenha a capacidade e, no caso da contabilidade, não haja um órgão local que regule a profissão (como o ACCA e o ICAEW, no Reino Unido e Irlanda, ou o CFC, no Brasil), as empresas (gostam) pedem graduação nas áreas de administração, economia ou qualquer área do tipo e isso é olhado, além, claro, de experiência – de preferência local. Quando você possui outra formação, muitas pessoas levantam as sobrancelhas e questionam o fato de você (ser “perdida” em termos profissionais) não ter direcionado sua carreira desde os primórdios da humanidade para aquela área, em concreto.
Um dia falarei das mudanças que podem gerar a mudança de país, mas não hoje. Entendo que possa não parecer normal ter um diploma em marketing e trabalhar em contabilidade, mas, honestamente, gosto do que faço. Sou uma pessoa muito analítica e é a parte que eu amo de ambas profissões – a criação publicitária nunca foi meu forte; perguntem aos meus amigos que fizeram o trabalho de final de curso comigo!
Entendo o questionamento até mesmo porque quem se formou em marketing acha que contábil só lida com contas e matemática (conceito bastante incorreto) e quem trabalha com contabilidade acha que formados em marketing são todos criativos (outro conceito equivocado). Dou risada quando ouço comentários do tipo “nossa! Logo se vê que essa companhia contrata todo tipo de gente, até mesmo aqueles sem formação contábil” – Keridã… Plis. Espero que você esteja fazendo uma auto-referência porque, honestamente, tenho mais experiência na área que você. É verdade que aceitei não cobrar muito, mas isso é temporário. Mas chega uma hora que cansa e, mesmo com metade de um ACCA, sentimos que precisamos de mais. Mais bagagem. Mais conhecimento. Até porque nada pela metade é suficiente: as coisas têm que ser por inteiro.
Eu gosto dessa minha bagagem de conhecimentos, do meu conjunto de habilidades, que me faz ser uma profissional única. E, igualmente, uma pessoa única também. São valores agregados que trago em mim, no meu curriculum.
Se eu sei onde quero chegar? Se for bem sincera, digo que não. A verdade é que vou um pouco na contra-mão de todas as linhas que dizem que você deve saber onde quer chegar para desenvolver sua estratégia, pensar nas possibilidades e se preparar com planos alternativos. Eu não faço nada disso. Deixo a vida me levar e tento não perder as oportunidades que aparecem. Posso não aproveitar todo o meu potencial, mas as variáveis são tantas e, na real, nunca sabemos onde podemos chegar… Afinal, como diria Forrest Gump, a vida é uma caixa de chocolates…