Não sou o tipo de pessoa que economiza em viagens. Viajar é uma questão muito pessoal e cada um, segundo as necessidades, sabe o que deve ser priorizado segundo o orçamento que cada um dispõe. A não ser, claro, que se tenha acesso a um orçamento ilimitado, o sonho dessa Trotamundos que os escreve. Mas, como ainda não cheguei nesse nível, prefiro ficar em hotéis mais baratos (ou até mesmo albergues, onde posso conhecer muita gente) e gastar em lembrancinhas ou refeições; não me importo, por exemplo, em gastar US$ 100 para comer alguma especialidade local em um restaurante com estrelas Michelin ou para fazer algo que só encontraria no lugar: para mim, são mimos que valem a pena.
Dicas
Em Ah Bah Não, minha amiga, Bárbara que foi ao Japão em junho (sim, deveríamos combinar; não, somos retardadas e não combinamos nada) dá várias dicas legais de como se virar em Tóquio e até como usar o WiFi de graça.
A viagem para o Japão, como já comentei, tem que ser um pouco planejada. Só assim você sabe se valerá a pena escolher o JR Pass para passear por aí ou se o melhor seria comprar um passe local.
Em Tóquio, ao contrário da Bá, escolhi por comprar o Suica. Vale muito a pena comprar esses passes porque, como em Londres, se paga por paradas e, como turista, não tenho a mínima ideia (nem vontade) de descobrir quanto me custará para percorrer determinado caminho.
Fiquei cho-ca-da, no entanto, que esses cartões podem ser usados para comprar qualquer coisa nas vending machines nas ruas. Você tem sede? Usa o Suica. Quer um café gelado? Suica!
Uma coisa engraçada é o preço da garrafa de água: uma garrafa de 500ml custa exatamente o mesmo que uma garrafa de 2l e eu não entendi o motivo. Então, a dica de mestre para se passear pelas cidades do Japão é levar uma mochila com uma garrafa de 2l de água – afinal, porque pagar quatro vezes pelo preço de uma só?
Recepção
Como turista, eu amei o Japão: não creio que haja sido recebida tão bem em nenhum outro lugar do mundo. Embora nem todos os japoneses saibam falar inglês – o alfabeto é completamente diferente -, todos tentam ajudar quando se pede ajuda e eles descobrem que você é turista.
Algumas vezes, alguns iniciavam a conversa comigo em japonês e logo percebiam que eu não era de lá – talvez fosse o super sotaque quando soltava uma frase ou talvez porque dissesse gozaimasu (muito) ao invés de gommenasai (perdão) quando tropeçava em alguém. O fato é que era claro que eu era uma turista e continuavam sendo simpáticos ao tentar conversar e entender de onde era e o que fazia lá. Acho que não seria tão bem recebida se decidisse morar lá porque, como uma residente descendente de japoneses, se esperaria que eu falasse o japonês com perfeição embora nunca fosse considerada japonesa… Bem complicado isso, não?
O que me surpreendeu, no entanto, foi a honestidade dos japoneses. Como a Bárbara comenta, gorjeta, no Japão, é considerado uma ofensa embora alguns taxistas a aceitassem. Nos restaurantes, no entanto, não se deixa nada. Inclusive, um dia, ia pagar o café da manhã em Kyoto com uma nota de ¥1,000, a de menor valor, mas encontrei moedas. Dei as moedas, mas esqueci a nota em cima da mesa e sai. Cinco minutos mais tarde, a dona do restaurante sai correndo com a nota de ¥1,000 nas mãos para me entregar porque a havia esquecido. Sério mesmo, acho que isso não aconteceria no país mais honesto do mundo ocidental!
Hospedagem
Ao agendar minha viagem para o Japão, estava preparada para gastar muito em hospedagem – afinal, a fama que tinha o país era de um lugar caro. Ao verificar o preço de hotéis em booking.com, fiquei surpresa ao descobrir que poderia ficar em albergues e hotéis cápsulas por em torno de US$ 40 por noite: afinal, não sairia tão caro me hospedar no país do sol nascente!
Ao descobrir que chegaria a Tóquio no mesmo dia que chegariam um casal de tios que amo como se fossem pais, decidi ficar no mesmo hotel que eles por uma questão de logística, independente do preço do hotel. Acabei por reservar um quarto no Villa Fontaine, um hotel bem central e com um preço bem salgado, que incluía café da manhã, tanto estilo ocidental quanto estilo japonês.
Há uma grande diferença entre o café da manhã ocidental, que inclui pães, manteiga e café, e o café da manhã japonês, que inclui sopa de misô, arroz e até nattou. Para quem conhece pouco a culinária japonesa, o nattou são os grãos de soja fermentados, ou seja, basicamente podres. Eu provei e diria que não fede nem cheira, mas de fato fede e muita gente não gosta; para mim, não tinha muito gosto de nada.
Para se previnir, caso o hotel escolhido ofereça café da manhã, pergunte se o café da manhã estilo ocidental também é oferecido! 😉 #DicaDeViagem
Fiz todas as reservas usando o aplicativo do booking.com. Achei o aplicativo bem fácil de usar – olha que sou meio desastre quando se trata de tecnologia – e, o melhor, não se tem que pagar nada adiantado: todos os hotéis foram pagos no balcão, no momento que cheguei para fazer o check-in. Eu, que não gosto de ter cobranças no meu cartão de crédito (tinha um pré-pago nas Filipinas e ainda não tenho um na Espanha) gostei bastante e super-recomendo!
Acabei ficando em quase todos os tipos de acomodação que oferecem o país: de hotéis 4 estrelas (o Park Hyatt Tokyo, de “Encontros e Desencontros”, infelizmente, ficará para quando eu ganhe na loteria) a albergues com quarto compartilhado com dez mil pessoas, de quartos em hotéis capsulas individuais a um albergue com futon no chão, estilo ryokan – hotel tradicional japonês. Sim, os dez dias no Japão foram intensos!
O que me impressionou bastante, além do atendimento, sempre cordial, foi que todos ofereciam shampoo e condicionador. Não eram potes individuais, mas quando se viaja, acho bem legal encontrar shampoo e condicionador nos banheiros e, em albergues, isso raramente nunca acontece. Bom, só vi isso no Japão!
O que me surpreendeu foi o sabonete de rosto e o pijama – que mais parecia ao do “Menino do Pijama Listrado” (The Boy in the Striped Pyjamas), mas tudo bem! – que encontrei no Villa Fontaine. O sabonete de rosto, algo que jamais vi em hotel algum em outra parte do mundo, era da marca Shiseido, uma das melhores em termos de cosméticos. Eu não conseguia acreditar no que viam meus olhos e adorei a espuma que fazia o sabonete.
Alucinei, no entanto, com o hotel capsula que fiquei por uma noite em Hakata, Fukuoka. O hotel se chama First Cabin e há uma unidade em Tóquio que fica próxima ao Tsukiji Market, o mercado de peixes. Embora seja um hotel capsula no qual mal cabe uma pessoa caso se opte pelo quarto mais barato (sua mala fica no corredor), a noite custou em torno de US$ 40 e além do pijama, oferecia uma área comum chamada de spa. Nessa área, havia um ofurô e produtos de limpeza de rosto – como óleos e sabonetes faciais – eram oferecidos além de creme para o corpo. E todos da marca Shiseido! ❤ Gente, juro que vale a pena!!!
Comida
Como descendente de japoneses, é de se esperar que eu goste da comida. Bom, acho que é mais um preconceito porque minha mãe, que é filha de japoneses (nissei), não suporta o sashimi: ela mastiga e mastiga e mastiga, como se o peixe fosse chicle e jamais consegue engolir.
Eu amo a culinária japonesa – inclusive, quando estava doente nas Filipinas sempre ia ao Hokkaido Ramen Santouka, ao lado de casa, e comprava um ramen com misô, para mim, um comfort food. Comer no Japão, portanto, era algo pelo qual ansiava.
Cada região no Japão tem a sua especialidade e sabia que isso acabaria com qualquer dieta que pudesse estar. Em Hiroshima, por exemplo, se come o okonomiyaki ao estilo de Hiroshima (não confundam com o okonomiyaki ao estilo de Osaka – são competidores); Nagasaki, devido às influências de diversas culturas, é conhecida por pratos como o champon, um ramen servido em restaurantes chineses pela cidade, o castella, um bolo que foi levado ao país pelos portugueses ou pelo arroz turco. Como se pode notar, o sushi e o sashimi são apenas dois dos pratos que a rica culinária japonesa oferece e, no final, fui a poucos restaurantes que servissem sushis ou sashimis: muitos dos lugares que escolhi, serviam ramen de diversos tipos e sabores.
O ramen é conhecido no Brasil como o Nissin Lamen, mas a sopa tradicional é infinitamente melhor que o pacotinho que fica pronto em três minutos: é uma sopa feita com macarrão japonês de trigo, um caldo complexo que pode ser à base de diversas coisas – as mais tradicionais são à base de shoyu, ou seja, molho de soja, ou misô, ou seja, pasta de soja fermentada e sal – com alguns legumes, carne de porco e, algumas vezes, ovo. Ela é uma refeição e merece ser provada em sua forma mais tradicional.
Em Hakata, um dos pratos tradicionais é o ramen de Hakata, cujo caldo é feito à base de costeleta de porco. Com sabor pungente e servido com uma pasta bastante picante, ele é bem gostoso. No GuideWithMe Japan, vi que o Ichiran (que, mais tarde, descobri haver em Tóquio) era uma cadeia tradicional na cidade que se dedicava ao aperfeiçoamento do tal ramen de Hakata.
Além do delicioso ramen, o Ichiran provou ser uma das experiências mais surreais em termos de restaurante da minha vida. Quando cheguei, me deparei com um caça-níqueis que mostrava os pratos que o restaurante oferecia. Uma observação: acho bem legal a limitação de pratos por restaurantes porque acredito que quando um lugar oferece muitas especialidades, os ingredientes não serão frescos e esse lugar não deve ser bom em nada. Enfim, escolhi o que queria, os acompanhamentos e paguei: no momento, recebi três cupons que equivaliam ao meu pedido.
Entrei. Ao invés de encontrar mesas, me deparei com cabines individuais. Sentei-me em uma delas e havia um formulário que escolheria como meu ramen deveria ser feito, quanto picante queria, o quão forte deveria ser o caldo, etc. Ao escolher, o meu formulário foi recolhido e, poucos minutos depois, o ramen foi colocado a minha frente, uma cortininha fechada e eu fiquei só, com aquele prato maravilhoso a minha frente… O ramen era maravilhoso: o caldo era rico e o porco derretia na boca. Mas o atendimento foi uma experiência surreal; a maior automação do atendimento que já conheci na minha vida!
Em Himeji, por recomendação também do GuideWithMe Japan (esse guia salvou minha vida!), fui ao Koba & More. O guia dizia que ele fechava às 23h, mas, na verdade, o lugar fechava às 22h. Koba-san, o dono e o chef, viu minha cara de fome e me deixou entrar – um fofo. Pedi logo um ramen à base de leite. Embora o porco não derretesse na boca, foi o caldo mais rico que provei na vida! Vale muito à pena: recomendo muito que visitem o Koba-san que, além de ter me servido um ramen maravilhoso após o horário, colocou MPB para acompanhar minha refeição quando descobriu que eu era brasileira!
Pelo ramen do Koba-san, paguei ¥850 (em torno de US$ 8,50). Dizem que o Japão é um país caro, mas não acho que pagar menos que US$ 10 por refeição seja algo caro; a verdade é que acho esse preço bastante acessível. Além das opções de restaurante, o país oferece bentôs (bentô-boxes) que são como marmitas e podem ser compradas em várias lojas de departamento e em todos os trens-balas. Elas não custam muito e, em geral, contém um pedaço de peixe (ou carne), oniguiris (bolinhos de arroz) e algum legume.
O que custa caro mesmo são as frutas: quando caminhava por uma loja de departamento em Ginza, em Tóquio, quase cai de costas ao ver uma unidade de manga sendo oferecida por US$ 160 (cento e sessenta dólares: não falta uma vírgula nem ponto). Acho que a única coisa que me impediu de cair foi o fato de que teria que pagar aquele valor por uma fruta – e não o pé inteiro.
Frutas, no Japão, são capítulos a parte. Outro dia li que, recentemente, um cacho de uvas foi vendido pelo singelo preço de US$ 8,200 (não, galera, não errei o lugar da vírgula: o preço de venda foi de oito mil e duzentos dólares!). Existe algo sobre o sabor da fruta, o formato e a sua perfeição que faz com que seu preço aumente, mas espero jamais conhecer o que diferencia um cacho de uvas que compro no mercado por menos de US$ 8 e aqueles que são vendidos por US$ 8,200: prefiro que me deem o equivalente em dinheiro que será melhor investido!
Banheiros
Nunca, em nenhum lugar do mundo, conheci um lugar que tivesse banheiros como o Japão: a privada japonesa em estilo ocidental tem um bidê acoplado que solta um jato de água quando o trabalho estiver acabado. Além disso, o máximo da limpeza, o assento também esquenta para os dias frios e alguns até soltam um jato de ar para que sua bunda seque. É incrível!
Mas existem os banheiros no estilo japonês, isso é, os assentos estão no chão e se tem que agachar para utilizá-los. Parece que são mais limpos e higiênicos, mas não estou acostumada e, portanto, não me sinto muito confortável em utilizá-los. A vantagem é que percebi mais banheiros no estilo ocidental no Japão que na China. Em uma estação de trem, por exemplo, os banheiros de deficientes serão no estilo ocidental, caso se necessite e, em geral, são bastante limpos. #DicaDeViagem