Gente, minha vida é toda errada. Bom, se a comparar com o que é considerado “normal” pela sociedade, ela é errada em todos os níveis possíveis. Entendê-la é bastante complicado: eu mesma, a personagem principal dessa louca vida, quando a tento entender, quase enlouqueço no buraco do coelho da Alice. Então, na maioria das vezes, simplesmente a vivo.
Atualmente, meu horário é uma loucura. Acordo para trabalhar às 7h… Da noite. E chego em casa às 7h… Da manhã. Então, se não estou mega-cansada, vou para a academia… Então, acabo na cama quase ao meio-dia…
É muito difícil alguém que nunca trabalhou à noite entender os horários noturnos. Para mim, que o faço há mais de seis meses, ainda é difícil e posso imaginar o quão complicado isso possa ser para as outras pessoas…
Outro dia, em um sábado desses, encontrei minha amiga para jantar, em um bar que gosto muito. Chama-se Café Curieux e foi onde assisti a alguns jogos da Copa de todas as Copas. Cheguei atrasada porque (01-) sempre estou atrasada e (02-) acordar antes das 21h (sim, 9h da noite) em alguns sábados me resulta uma missão beirando a impossível. Sentei-me e, na mesa, as pessoas já estavam com seus copos de vinho e cocktails. O garçom chegou e eu perguntei: “vocês têm café?”.
Minha amiga me encarou, como se eu fosse uma extraterrestre. Afinal, quem é a louca que vai a um bar às 21h e pede café. Peça um cocktail ou uma taça de vinho, pelo amor! A verdade é que eu acordo com café (a bebida, não a refeição); antes que este elixir dos deuses desça pela minha garganta, não posso me considerar um ser-vivo. Enfim, tomei meu café. Às 21h. Normal. Para mim.
Algo parecido quando encontrei essa minha amiga para ver algum dos jogos da primeira fase que começavam às 6h da manhã. Fui à sua casa, logo depois do trabalho, e ela me perguntou o que eu queria. Disse que queria vinho, o que eles estavam bebendo, e um pouco de queijo, já que tinha fome. Ela me olha, com uma cara de estranhamento “você não prefere cereais com leite?”. Não. Vinho com queijos está ótimo!
Alguns sábados, quando saio, peço minha cubata (cuba libre) ao chegar no lugar. Nesses momentos, começo a questionar a sanidade dos meus pedidos. Vejam bem, acordo, nos sábados, por volta das 22h (ou mais tarde). Algumas vezes, passo o “dia” (que na verdade é noite) na cama. Outras vezes, saio para algum bar ou balada com meus amigos que seria, para mim, o equivalente a encontrar os amigos para passear no parque. Nesses dias, quando peço a minha cuba libre logo de cara, começo a me auto-questionar “se acordo às 23h e bebo um cocktail com batatas fritas como a primeira refeição do dia, já posso ser considerada uma junkie bêbada?”. Gente, é muita loucura que passa dentro dessa cabecinha!
Um dia, li que algumas vezes a vida vira você do avesso e então você descobre que o avesso é o seu lado correto. Eu sempre fui bastante “errada”, agi muitas vezes de forma que não condizia com o que era esperado e fugi para a Irlanda quando a maior parte dos meus amigos decidiu casar e ter filhos. Naquele momento, decidi correr atrás do meu destino e percorrer um caminho que, embora percorrido por tantos antes de mim, era desconhecido para a maioria.
E, aqui, desse lado do mundo que é o outro lado para muitas pessoas, encontro-me agora. Em uma situação às avessas, vivendo uma vida que sempre quis, de uma forma que jamais imaginei que fosse viver… Acho que assim é a vida. Uma caixinha de surpresas e, no final, nunca sabemos onde vamos parar!
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