Manila e o Tufão: Vivendo no Limite!

O clima nas Filipinas é dividido entre úmido e seco, mas é sempre quente. Em dezembro, quando se inicia a época seca, as temperaturas caem um pouco e se pode sentir uma brisa fresca. Inclusive, algumas horas da noite, um casaquinho é necessário.

Março e abril são os meses considerados de alto-verão, quando faz muito calor e a possibilidade de chuva é mínima (mínima não quer dizer que nunca chova!). Nesses meses, faz tanto calor que sinto que moro nas portas do inferno e acho que todo cachorro que late é Cérbero. Esses meses são considerados férias escolares e é considerada altíssima-estação (peak season): os preços dos bilhetes de avião e hotéis atingem o seu topo.

No fim de maio, as primeiras gotas começam a cair e o céu começa a escurecer. Quando a primeira chuva forte chega a Metro Manila, percebo o quão eu me desacostumei às chuvas, assim como todo o resto da população da cidade: as filas para se pegar um táxi crescem de forma exponencial e os taxistas começam a regatear pelo preço da corrida. Aliás, se existe uma coisa que os taxistas de Manila conseguem fazer de forma brilhante é explorar a teoria da oferta e da procura e o fazem isso de forma diária.

O trânsito piora em progressão geométrica e pode se demorar mais de uma hora e meia para percorrer um caminho que, em dias normais, se leva 15 minutos. Se a cidade se transforma em um inferno nos dias mais quentes, uma inundação digna de Noé pode atingir a cidade na época de chuvas. Isso se deve à falta de infraestrutura da cidade que cresceu de forma quase aleatória.

Sobre a região de responsabilidade filipina passam cerca de 20 tufões por ano. Um tufão é, basicamente, chuva com ventos fortíssimos. Poucos tufões atingem diretamente Metro Manila; em geral, sofremos suas consequências, como inundações em pontos da cidade pela quantidade de chuva e, de novo, falta de infraestrutura de uma cidade que deveria tê-la já que desastres naturais não são novidades por aqui. Lembro-me de um dia, depois de um alerta, abrir as cortinas do meu quarto e ver que as casas do outro lado do rio, como chamo a favela que vejo da janela, tinham sido substituídas por água. Uma visão bem triste.

As casas do outro lado do rio

As casas do outro lado do rio

O Haiyan, o super tufão que atingiu as Filipinas em 2013 não atingiu a cidade. Bom, eu não sei quais as consequências desse tufão em Metro Manila, mas sei que ele deixou uma das minhas ilhas favoritas nas Filipinas (Malapascua) em ruínas, assim como várias regiões. Após o terremoto que atingiu a região de Bohol algumas semanas antes, o tufão era tudo que o país não necessitava.

Esses parágrafos formam a introdução para o que acabou de acontecer: o tufão Rammasun atingiu Metro Manila na manhã de terça-feira, dia 16 de julho de 2014, com sinal de alerta público 3 que representa tufões/ciclones/furacões com velocidade entre 100km/h e 185km/h. Legal, não? Isso é o que defino de “viver com emoção”.

Embora tenha descrito no Trotamundos experiências com tufões, nunca nenhuma foi tão assustadora quanto a que vivemos ontem. Cheguei em casa, do trabalho, 30 minutos antes que os fortes ventos começassem a soprar. Ouvi o alarme soando. Normal. O Jorge já estava preocupado, mas, com a minha inocência creída, achava que o Rammasun seria como as experiências anteriores: muita chuva, algum vento e muito barulho. Mas que isso não nos afetaria, afinal, vivemos em um dos bairros-bolhas de Manila… Inocente!

Estava deitada na minha cama e o barulho do vento não me deixava dormir. Então, como sempre, comecei a assistir a algum dos episódios de alguma das minhas séries favoritas. De repente, a janela do meu quarto sai voando, como a vaca no filme Twister, e todas as minhas coisas são atiradas para dentro do meu quarto junto com uma quantidade incrível de água e sujeira.

Minha cama não fica próxima a essa janela, que é quase uma baywindow, mas a soma do barulho, do vento e o susto foram suficientes para me fazer gritar e sair o mais rápido que pude do meu quarto. Digo o “o mais rápido” porque a janela, que agora é um buraco aberto no 18º andar, fica em frente à porta e os ventos dificultavam que eu a abrisse. Tragicomédias da vida Manilenha…

Ficamos isolados na sala, o ambiente com menos janelas, por duas horas. As estruturas dos ares-condicionados foram movidas pelo vento e mais sujeira entrou no apartamento. Ouvia a porta do meu quarto chacoalhar como se fosse uma folha de papel e rezava para que ela aguentasse a pressão dos ventos, pelo tempo que durassem.

Embora viva no 18º andar e existam 11 mais andares acima do meu, entrava água por todos os lados e minha cama ficou molhada, como se houvesse uma goteira em cima dela. Nesse momento, tive a confirmação de que, embora eu viva em uma bolha, muitos apartamentos são mal construídos porque esse tipo de coisa jamais deveria acontecer. Imagina a população que vive em casas normais? Como comentou um conhecido no Facebook, me senti como se estivesse dentro de uma máquina de lavar.

O tufão terror durou duas horas, nas quais ficamos isolados na sala e, nesse tempo, o alarme soou várias vezes. Não entendi o motivo: o bicho monstro já estava sobre as nossas cabeças, não precisávamos de mais um aviso (mas o que entendo eu de tufões e terremotos?). Eu não precisava de aviso nenhum porque podia ouvi-lo, senti-lo e vê-lo.

Quando ele acabou, tivemos que limpar a casa. Afinal, toda a sujeira possível entrou no meu quarto que, além de tudo, estava levemente alagado. Não bastasse passar a noite acordada, trabalhando, tive que passar parte da manhã isolada na sala e a outra parte fazendo a limpeza.

Hoje, ouvi de uma colega que quando passa um tufão, em geral, passam três em sequencia. Considerando que estou sem vidro no buraco do meu quarto, isso não seria nada legal. Espero que a manutenção do prédio venha logo para tapar o buraco com qualquer coisa enquanto o substituto do vidro esteja sendo preparado porque não é seguro eu ter um buraco na parede e viver no 18º andar: sou bem desastrada, para quem não me conhece.

De qualquer forma, fucei no site do PAGASA (Philippines Atmospheric, Geophysical & Astronomical Services Administration) e vi a foto satélite abaixo: a mancha amarela com o centro vermelho à esquerda é o monstro Rammasun, que acabou de passar. À direita, vemos três outras manchas amarelas e vermelhas menores. Esses são tufões ou depressões tropicais em formação. Quem quer mesmo viver no limite do perigo?

PAGASA: o Rammasun que passou e os que vão chegar. Legal! SQN!

PAGASA: o Rammasun que passou e os que vão chegar. Legal! SQN!

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7 comentários sobre “Manila e o Tufão: Vivendo no Limite!

  1. Menina que loucura!!! E me diz uma coisa, quando esses danos acontecem quem é responsável pelos custos dos reparos? Porque isso acontece todo ano nas Filipinas não é mesmo? O governo cobre os custos ou são vocês mesmos? Sou louca para ir às Filipinas mergulhar, por enquanto não rola porque as passagens daqui da Alemanha até ai são bem carinhas :/ adorei esse post… não tinha ideia de como eram esses momentos ai, nunca conheci ninguem que me contasse! Beijos, Allane.

    • Oi Allane! Sobre as passagens aéreas, sei que há boas promoções da Espanha! Lembro-me que minha amiga comprou uma passagem para fevereiro ou março e pagou 600 euros! Vale muito a pena! Ainda tem coisas pendentes sobre as quais preciso escrever!
      Então, sobre os danos dos reparos, quando é propriedade privada, fica por conta do dono ou do seguro. Como várias unidades foram danificadas no meu prédio, a manutenção tentará pedir que o seguro o pague. Senão, vou ter que entrar em contato com o dono do apartamento. E, se ele não pagar, quem terá que pagar sou eu… =/ Porque não posso ficar com um buraco enorme no meu quarto! Haha!
      Foi a primeira vez que passei por um tufão grande. O problema é que as construções são mal feitas e dizem que o Rammasun foi o maior tufão que passou pela capital…
      Mas… Acontece! Isso são as consequências de se viver em cima do anel do Pacífico! Hehe!
      Beijos

      • Ahhhh entendi!! Que loucura isso…como vc mesma fala no post, eles já deveriam ser preparados para essas coisas não é? Espero que dê certo ai pra vc… e obrigada pela explicação e pela dica das passagens tbm, vou dar uma olhada… quem sabe ano que vem rola de visitar as Filipinas 😀 sorte ai com tudo e cuidado! beijos, Allane

  2. Acompanhei com a familia da minha namorada a passagem do tufao, todos pareciam tranquilamente estar passando por algo ja esperado. Apesar dos ventos, o pior eram os brownouts de energia. Mas nos braslleiros realmente nao estamos tao preparados… Espero que fique bem aih!
    PS: Tati,se for possivel, uma materia sobre passagens aereas mais baratas! haha

    • Oi KR_Zero! Então, esse foi um dos maiores que aconteceu em Metro Manila. Achei bem justo eles desligarem a energia da cidade porque como os cabos aqui não são soterrados, um tufão desse tamanho poderia causar muitas mais fatalidades, se combinada com energia! Nem quero imaginar!
      Pensei em escrever como eles superaram o tufão. Teve, acabou, limparam as ruas e business as usual. Incrível!
      Então, sobre as passagens baratas… Eu vou tentar escrever, mas nem sempre elas são muito baratas! Para o Japão, por exemplo, sai quase mil reais! Hehe!
      Beijos e obrigada por me acompanhar!

  3. Oi tati,
    Vi hoje ( 5 dezembro 2014) , que provavelmente terá outro Tufao nas filipinas ;(

    Este Tufão seria semelhante ao do ano passado? Estou em pânico, pois vou de férias para el nido e depois boracay do dia 20-12 a 02-01-15 …

    Estas ilhas são atingidas? E manila?

    Beijoe tudo de bom para vc!!!

    • Oi Lorena!

      Passam em torno de 20 tufões por ano nas Filipinas, assim que “viver com emoção” faz parte do dia-a-dia! 😉 Esse que está chegando, a uma velocidade incrivelmente lenta, parece que vai ser bastante forte sim!

      Sobre os lugares que ele afetará, até há algumas horas, ninguém sabia ao certo o caminho que ele tomaria. Sabe-se que a cidade de Tacloban está no caminho, mas não li nada sobre Boracay ou El Nido.

      A verdade é que ainda que essas áreas não sejam diretamente afetadas, é provável que haja bastante chuva e algum vento, depende de onde o tufão passar.

      Um beijo!

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