Todas as vezes que descrevo experiências em táxis em Manila, eu acredito que será a última. Afinal, sou positivista e acredito todas as vezes que nada mais pode acontecer comigo… Já entrei em táxis com baratas (um era tão velho que, enquanto eu chutava a porta para afastar a barata, me questionava quantos chutes faltavam para que meu pé saísse pelo outro lado), já tive discussões com taxistas sobre os caminhos, já os ameacei de morte… Enfim, quando achei que TUDO já tivesse acontecido comigo e o assunto estive esgotado, passo por uma nova experiência.
Ontem, pegamos o táxi no ponto em frente ao meu prédio. O táxi era bem velho, com o trinco de uma das portas quebrado e algo que caía de uma das janelas. Aliás, quando digo “táxi velho”, acho que poucas pessoas entendem o que realmente quero dizer. Táxi velho quer dizer, literalmente, caindo aos pedaços, como se ele rogasse por ser jogado em um ferro velho e ter uma aposentadoria/morte descente. Embora o exagero faça parte da minha personalidade, juro que, desta vez, não é.
Algumas vezes, acredito que esses táxis velhos são reflexos de muitos taxistas por aqui… Muitos senhores de idade continuam trabalhando como taxistas para sustentar suas famílias. Uma vez, peguei um que era surdo (eu acho) e eu tinha que gritar para que ele entendesse onde queria ir. Acho triste, sabem? Acredito que todos os seres humanos mereçam uma aposentadoria descente e o trabalho de um taxista em Manila é bastante pesado.
Acho que é um hard work, mas não somente pelo trânsito (horroroso) e sim porque muitos trabalham 12 horas ou mais, chegando à 24 horas atrás de um volante. Isso, pelo menos, foi que ouvi e o motivo era que como muitos não têm seus carros, eles têm que pagar uma diária como aluguel para os donos do carro. Enfim, de volta ao taxista de ontem…
Para chegar ao meu trabalho, pegamos uma via rápida, como a Marginal ou a 23 de Maio em São Paulo. Rapidez é um termo relativo porque depende do trânsito, mas na hora que geralmente venho trabalhar, o trânsito é pouco. O que importa é que a C5 é uma via sem semáforos.
Ouvíamos um barulho estranho, como se fosse um ronco de motor. Como se o motor do carro fosse fundir a qualquer momento. Aliás, barulhos estranhos em táxis fazem parte porque acho que a manutenção dos mesmos simplesmente não acontece.
“Jorge, que barulho é esse?”
“Não sei, Tati… Acho que é problema do carro…”
E ficou assim… Até que, de repente, na 23 de Maio de Metro Manila, a velocidade do táxi começa a diminuir e ele ameaça parar.
“KUYA!” eu grito do banco de trás “Você está bem?”
“Ah… Sim, sim, ma’am…” ele responde. O barulho pára e a realização chega: O TAXISTA DORMIA COM OLHOS ABERTOS E O BARULHO ERA O SEU RONCO!
Sou mestre em dormir em sala de aulas com olhos abertos e não posso dizer que nunca dormi em lugares impróprios. Mas, NUNCA consegui dormir dirigindo, com o CARRO EM MOVIMENTO! Quando ainda tinha minha carta de motorista licença para matar, lembro-me de pegar o carro após uma noite não bem dormida e dirigir pela Bandeirantes, com as janelas abertas e cigarro na mão. Mas não adormeci!
Bem, passamos o resto do trajeto conversando com o taxista, em voz alta, para mantê-lo acordado. Sério mesmo.
Acho que tem coisas que só acontecem comigo. É verdade que os asiáticos têm uma facilidade para dormir tremenda, como eu nunca vi na vida. Acho que são os genes, os mesmos que deixam os olhos puxados. Não estou sendo preconceituosa (afinal, meu sangue e genes são 100% asiáticos, imported from Japan, made in Brazil); isso é uma constatação de fatos.
A Chris Marote (sempre falo dela porque, às vezes, preciso ver que essas coisas não só acontecem comigo) mostra em seu texto China, o País da Soneca várias fotos de chineses dormindo em vários lugares inusitados. Outro dia, eu mesma fui à academia e tinha um chinês, dormindo…
Tenho facilidade para dormir. Durmo em qualquer viagem, de carro, ônibus ou avião. Cheguei a dormir no chão do Dublin Airport uma vez (porque estava doente e o vôo da Ryanair, para variar, estava atrasado). A verdade é que durmo quando estou entediada… Mas na academia? Nunca… O meu coração está acelerado e, simplesmente, não consigo. Naquele dia, quando fui fazer abdominal, em uma máquina, olho para o lado e vejo o cara dormindo. Aquilo foi tão bizarro, tão de outro mundo, que não resisti e tirei uma foto.
Quando ele acordou, voltou às suas abdominais, como se nada tivesse acontecido…
Bom… É isso! Embora eu tenha escolhido viver com emoção (não quero mais, Deus. Cansei… Quero viver na Europa, por favor…), espero que seja meu último post sobre os taxis nas Filipinas. Porque acho que vivi praticamente todas as situações engraçadas e não quero viver as trágicas… Por favor! =)
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Solidariedade é tudo Tati! vc não está sozinha no paraíso asiático!! hehehe. Bj.
Ainda bem que tenho você, Chris… Mesmo! Assim não me sinto tão… Louca! Haha!
Ola.
Muito bacana seu blog , to lendo tudo.
Ja que vc falou em transporte…. como que aluga uma moto ai ? Pretendo ir para Filipinas e gostaria de alugar um, sera q pra estrangeiro eh possivel?
T mais!
Oi Juao! Tudo bom? Fico feliz que você esteja se divertindo com o blog…
Então, sobre aluguel de moto em Manila, eu não conheço nada, mas sei que é bastante perigoso dirigir por aqui! Hehe! Aliás, nem sei se há aluguéis de motos porque, mesmo quando alugamos carro, o motorista está incluído no preço…
Conheço algumas pessoas que têm motos, mas acho arriscado. Os manileños dirigem muito mal e as leis de trânsito são um pouco… Desconhecidas para mim, colocamos assim!
Nas províncias, acredito que o aluguel de motos seja mais fácil.
Por quanto tempo você vem?
Um beijo