Desabafos (I): Chantagem Emocional e Reflexões sobre Amizade

Conheço uma menina que um amigo apelidou de Dhyva. Não que ela seja uma diva; justamente o oposto, mas achei engraçado e o apelido pegou. Outro dia, ela disse me disse, entre lágrimas “Achei que seria diferente… Achei que porque você é minha conterrânea, porque somos da mesma terra, você seria minha amiga e fosse me ajudar.”

‘Dhyva, honestamente, acho que não somos nem do mesmo mundo porque eu venho do mundo das pessoas lymdas e inteligentes e não do mundo das pessoas que se fazem de coitadas’, pensei enquanto meu sangue fervia borbulhava de raiva pela afirmação injusta e pelas lágrimas de crocodilo que caíam daquela cara redonda. Sinceramente, acho o cúmulo da falta de respeito chorar quando se está levando bronca no trabalho, mas nem foi só por isso que fiquei irada.

01-) Senti-me super bullied. Estava ensinando algo que ela deveria saber a alguns meses. Quando ela me fez a mesma pergunta, pela milésima vez, pedi para que abrisse o caderno onde havia pedido que ela fizesse suas anotações. Não abriu e continuou apontando para a tela (oi???), insistindo em afirmar que estava certo algo que eu dizia que não estava (poham… Eu estava ENSINANDO… Acho que saberia se aquilo estava bem). Então, perdi a paciência e em alto e bom tom (bom, meu tom de voz é, naturalmente, alto!) “não estou falando que não é isso???”. Pronto. Isso foi suficiente para as lágrimas virem aos olhos da Dhyva, os quais ela apertava para que as lágrimas rolassem.

“Estou ensinando algo que você já deveria ter aprendido. Se isso não é ajudar, não sei o que é!”

Ensinar não é ajudar? E, para mim, quando ensino, é de responsabilidade da pessoa que está aprendendo estudar o que lhe foi ensinado. Quando isso mudou?

Acho que chorar quando se está levando bronca no trabalho é o pior tipo de bullying* que uma pessoa pode fazer contra a outra porque, embora não seja algo violento, é algo que faz com que todo mundo à volta pense em como a pessoa que está chorando está sendo injustiçado. Quer chorar? Ótimo. Vá ao banheiro, se tranque lá e soluce. Espere até passar, lave o rosto e volte.

(*) O bullying é definido como impor dominação sobre outros de forma abusiva. Quando acho que alguém que chora está fazendo bullying é porque ele/ela está se fazendo de coitado para que outros assumam a responsabilidade que deveria ser dele/dela. Se estou fazendo hora-extra para ensinar alguém que não quer fazer esforço para aprender, acredito que quem está recebendo o bullying sou eu, embora nenhuma lágrima caia do meu rosto.

02-) “Nos conhecemos há três anos, Dhyva, e quantas vezes você me ligou para perguntar como eu estava?” ela não respondeu “Quantas vezes você me ligou para perguntar se estava viva e bem?”

“Eu liguei para você quando soube que iríamos trabalhar na mesma empresa…” ela falou, como se isso transformassem três anos de “olás” ditos nos corredores e em festa de amigos em comum em uma grande amizade. Só que não.

“E, antes disso, nenhuma ligação. NENHUMA, Dhyva. Isso não é amizade”.

Eu sei que sou brasileira e moro no exterior, mas acho engraçado a crença que muitos brasileiros têm de que quando encontramos outros brasileiros no exterior, existe uma obrigação, quase como se fosse uma cláusula inviolável de um contrato, de que uma amizade nasça quase que instantaneamente, só porque dividimos a mesma nacionalidade. Eu mesma pensava assim. Até o dia que uma amiga me disse “Tati, eu não sou amiga de brasileiros só porque eles são brasileiros. Se eu conheço alguém que não seria meu amigo no Brasil, não vejo motivos para ter essa pessoa como amiga no exterior“.

Essa afirmação fez todo o sentido do mundo para mim, afinal amizade nasce por afinidades. E, ter nascido no mesmo país não é afinidade o suficiente para que duas pessoas sejam, imediatamente, amigas. Se isso fosse assim, Fernandinho Beiramar e o Marco Feliciano estariam em meu círculo íntimo de amizade, não haveria brigas e mortes por causa de rixas entre pessoas e todos viveríamos felizes no Brasil, abençoados pelo Cristo Redentor. Tudo seria, de fato, um Carnaval. Mas todos sabemos que não é bem assim.

Então, acho engraçado interessante quando alguém cuja interação foi quase zero conta com uma amizade inexiste para algo no qual a amizade nem deveria ser um diferencial.

Na boa… Cansei desse povo que se faz de coitado para que os outros tenham dó e o carreguem nas costas. As oportunidades surgem para todas as pessoas e, embora nem todos possam ter tido a oportunidade de freqüentar uma boa escola, todos têm a oportunidade de fazer o melhor com aquilo que lhes foi dado. É uma questão de escolha querer estudar e se tornar uma pessoa melhor. Uma grande amiga que gosto muito me ensinou isso.

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Um comentário sobre “Desabafos (I): Chantagem Emocional e Reflexões sobre Amizade

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