O Inverno de São Paulo e eu…

Eu tinha me esquecido… Enquanto caminho pela Avenida Paulista no começo de um dia útil qualquer, a garoa fria de inverno bate na minha cara e me faz lembrar que São Paulo é uma dessas cidades, na qual faz um calor de rachar um dia e um frio de congelar os ossos no próximo. São Paulo é uma cidade cujas mudanças de clima deixam qualquer um maluco – ou simplesmente com um resfriando constante.

O frio da chuva passa quando entro no edifício do curso que faria naquele dia. Ao olhar pela janela, percebo que nem mesmo um pequeno raio de sol consegue ultrapassar as grossas nuvens que cobrem a minha cidade. Naquele dia, o sol não brilharia e o frio continuaria. Ainda assim, no fim daquela semana, o sol voltaria a brilhar com uma forte intensidade de cozinhar o corpo e deixar a sensação de se querer deitar à beira da piscina com nada mais que um cocktail nas mãos… De 13º a 33º na mesma semana… Isso é São Paulo.

Avenida Berrini, uma noite de 10o...

Avenida Berrini, uma noite de 10o…

Avenida Paulista e o calor de 30o.+

Avenida Paulista e o calor de 30o.+

Tinha me esquecido da sua multipolaridade, da sua inconstância. Acho que nem mesmo os paulistanos da gema, aqueles que nasceram e cresceram nessa cidade conseguem entender essa louca mudança. Nós simplesmente a aceitamos e conversamos sobre ela em casuais encontros no ponto de ônibus, no elevador ou mesmo com a nossa família. “Nossa, você percebeu como fez calor ontem? E o frio de hoje de manhã, que loucura! É… O tempo está ficando maluco mesmo!”

Essas mudanças acontecem com maior freqüência no inverno paulistano. Nessa época, roupas para todas as estações estão presentes no guarda-roupa e podem ser usadas a qualquer momento: blusa de alcinha e bermuda em um dia de calor e o casaco pesado de lã e cachecol no próximo. Ou talvez isso tudo seja usado no mesmo dia, ao mesmo tempo.

Isso me faz pensar… Acho que sou mesmo filha dessa cidade. Minha multipolaridade e a sua inconstância são complementares, quase como se eu fosse uma tradução humana dessa selva de pedras. A manhã gelada, o meio-dia quente e uma brisa fria no fim da tarde. Grossa pela manhã, amigável ao meio-dia e tranqüila no fim do dia, ao sair do escritório. É, somos assim de iguais…

Percebo, nesse momento, que embora eu tenha saído de São Paulo, a cidade jamais sairá de mim. Isso é, em parte, um pouco preocupante e ao mesmo tempo um alívio. Entendo que as minhas loucuras são as loucuras da minha cidade e que embora eu tenha que chegar a um meio termo e não deixar que a luz brilhe tanto para que não haja tantas sombras, também preciso me aceitar como sou. Porque, embora tenha fugido desse mundo há mais de seis anos, percebo que nunca vou conseguir fugir de mim mesma, fugir de São Paulo…

Essa cidade, que brilha intensamente, também tem suas sombras escondidas. Ah, São Paulo… Quando a olho assim, por cima dos edifícios altos da Avenida Paulista ou da região da Berrini, você parece quase tranqüila. Um mar de luzes e prédios. Mas eu a conheço tão bem quanto alguém poderia conhecer a sua própria essência, de uma forma assim, um pouco velada. Porque, a verdade é que não conseguimos aceitar nossas sombras por completo, não é mesmo? Bem, ainda luto para me conhecer – e aceitar – por completo.

Sou filha sim dessa cidade de diversas e difíceis personalidades. De uma forma louca, me vejo refletida em suas luzes, me vejo espelhada em suas sombras. E rio. Porque, embora isso fosse uma boa desculpa para explicar quem sou, nunca passará disso: de uma desculpa…

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2 comentários sobre “O Inverno de São Paulo e eu…

  1. Amei o texto e morri de saudades da MINHA cidade hahaha…
    Eu tbm me sinto um clone de SP preso num corpo humano e sinceramente, não é nada fácil. Mas ao mesmo tempo, SP é uma cidade interessante que desperta amor e ódio em quem a conhece. Acho que o mesmo acontece com a gente né? hehehe
    É Tati, aceite SP e automaticamente vc pq, mesmo não sendo perfeita é sempre uma aventura pronta para sacudir a vida dos acomodados hihi
    Tem coisa mais legal que isso?

    Bjobjo

    • Bah, não é fácil ser São Paulo atrapado em um corpo humano! Hahahahahahahah! Acho que esse é um dos motivos pelos quais nos damos bem! 😉
      Nós duas sacodimos a vida até de quem quer ser deixado em paz! Haha!
      Obrigada por ler o texto, linda! Beijo outro tchau!

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