Saudades de uma Dublin que Não Volta Mais…

Nunca pensei que fosse sentir as saudades que sinto de Dublin, mas hoje, quando via a nova série da NBC, Crossing Lines, meu coração quase se partiu quando ouvi um Irish falando de um corpo encontrado no Phoenix Park (basicamente minha mente entendeu Phoenix Park em um sotaque irlandês… Não sou louca e não sou necrófila, FYI). Acho que se ele tivesse falado St. Stephen’s Green ou Liffey River, eu teria caído em prantos, no meu quarto, naquele exato momento.

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Quando parti de Dublin, sabia que a minha jornada naquela cidade, naquele país, havia acabado. Parti de Dublin com o coração leve e a certeza que sentiria saudades das pessoas, dos meus amigos, da minha pequena família. Mas hoje, eu senti saudades da cidade.

Senti saudades dos meus finais de tarde deitada no gramado do St. Stephen’s Green. Senti saudades do cheiro do café que costumava comprar, em frente ao meu antigo trabalho, na Grafton Street. Senti saudades do Luas, de passa em frente ao Odeon e do barulho das festas brasileiras aos domingos. Senti saudades das boas pizzas e das pizzas ruins, da comida japonesa na George Street e do café da manhã irlandês que comia aos domingos em frente de minha última casa, em Milltown. Senti saudades do céu cinza e feio, do clima frio e do vento que chegava por todos os lados. Porque Dublin é, literalmente, a cidade onde o vento faz a curva (eu sei. Morei há duas quadras do lugar onde o evento acontecia, todos os dias).

De repente, lembrei-me de Merrion Square e de Oscar Wilde, o melhor e mais sarcástico poeta, de suas frases cheias de verdade que têm validade até os dias de hoje… E dos festivais de verão, dos dias longos e da viagem até Galway, nos Cliffs de Moher, meu primeiro fim de semana longe da “cidade grande”…

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Cliffs of Moher, Galway... Sim, valem a pena!

Cliffs of Moher, Galway… Sim, valem a pena!

O engraçado das saudades é que ela está diretamente relacionada a lembranças. Porque eu sei que, embora voltasse para a Irlanda nesse momento, embora empacotasse tudo e voltasse para a Ilha Esmeralda, tudo seria diferente. Caminharia pelas margens do Liffey com pessoas diferentes, atravessaria a Ha’penny Bridge com outras companhias e, de repente, o café onde comprava o meu latte diário nem mais existisse. Porque tudo mudou: muitas das minhas amigas partiram de Dublin, outras se casaram e tiveram filhos e outras ainda estão pensando em ir embora; muitos negócios fecharam e outros foram abertos em seus lugares. Então, mesmo que decidisse voltar, eu nunca voltaria para o mesmo lugar e as saudades permaneceriam: elas criaram, em minha memória, uma foto de um passado que já não mais existe.

As saudades inesperadas são um sentimento engraçado. Nunca esperei sentir saudades de Dublin, até a primeira vez que senti. De repente, meu coração se tornou pequeno e tudo o que queria era voltar ao tempo. Talvez não a um momento específico, mas simplesmente sentir a mesma vibração. Comer os chicken wings no Woolshed, o pub australiano (sei, que irônico!), ao lado do Cineworld da Parnell. Ou das portas coloridas e dos prédios cinzas. Ou da fria paisagem de Howth e do maravilhoso clam chowder que era feito por um brasileiro! As pequenas coisas, as pequenas lembrança que tornaram Dublin uma cidade memorável no meu coração.

Nunca a vou esquecer. Não importa o quão cansada estivesse dos seus invernos intermináveis ou da constante palidez da minha pele que nunca havia estado tão branca. Não importa o quão sofresse com a neve nessa cidade que não estava preparada para ela, estivesse estressada com um trabalho que não me levaria a lugar nenhum ou cansada de passar as noites na biblioteca. Não… Porque não é possível esquecer um amor assim que começou com o acaso…

Então, em um último momento, olho para trás e suspiro; já não existe mais volta… Quando um relacionamento acaba, ele simplesmente termina. É assim… Um dia nos veremos e voltaremos a sorrir, uma para a outra, Dublin querida. Mas é assim… A vida caminha para frente.
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Trotamundos by Tati Sato is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.
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