Um Passeio por Xiamen, China

“Xiamen é uma cidade interessante, mas é bastante pequena”. Ouvi essa frase de um chinês que morava em Shanghai, uma das pessoas com quem dividi o quarto do albergue que ficamos na viagem desse fim de semana. Ele se referia a Xiamen, uma cidade em uma ilha localizada ao sul da China, como relativamente pequena embora tenha uma população de aproximadamente 3,5 milhões de pessoas. Acho que para os chineses 3,5 milhões de pessoas realmente é um povoado de interior…

Com aproximadamente 1,6 bilhões de habitantes, a China é um mundo a parte e não falo isso de modo figurativo: é literal. Acho que a China não precisaria de outros mercados para consumir o que produz: tudo que é produzido na China encontraria seu mercado internamente. E, me encontrar no meio dessa quantidade toda de pessoas, começar a entender a superfície de que um mercado como o chinês representa, foi bem interessante.

Escolhemos Xiamen pelos preços das passagens. A ida e a volta para Manila, pela Cebu Pacific, nos custou aproximadamente PHP 2.700,00 (aproximadamente EUR 54,00 ou R$ 108,00). Pagar somente isso para passar um fim de semana em outro país era tentação demais… E um amigo e eu embarcamos para a nossa jornada.

A cidade é extremamente bem preparada para turistas. Chineses, porque quase ninguém fala inglês e aqueles que o falam, falam pouco. Como comentei, o mercado interno na China é enorme e, se eles não quisessem, não precisariam receber ninguém de fora. A cidade tem um sistema de transporte ótimo (o ônibus custa RMB 1,00, algo em torno de EUR 0,13 ou R$ 0,33. Nem em um país socialista, o ônibus é gratuito!!! #prestaatenção!) e é bastante agradável, com uma arquitetura que mistura casas de influência francesa com os modernos arranha-céus. No entanto, ela só é preparada para turistas chineses porque quase ninguém falava inglês.

O problema é que eu tenho essa cara oriental. E, embora meu amigo espanhol iniciasse as conversas, os garçons dos restaurantes, recepcionistas de hotel, vendedores de loja SEMPRE olhavam para mim e começavam a falar o tal do mandarim. O problema é que eles falam muito em uma velocidade impressionante um idioma que eu somente conhecia o ni hao (que é olá) e o xié xié (obrigada). E, dependendo da forma como se pronuncia o xié xié, o significado pode ser outro: caranguejo caranguejo.

Na China, em qualquer lugar da China, em mandarim ou cantonês, eu posso sim morrer de fome. Então (essa é uma DICA TROTAMUNDOS!), meu amigo sugeriu que baixássemos um aplicativo nos nossos celulares que contivessem algumas frases em mandarim. Baixei um chamado Learn Mandarin no Google Market que foi ótimo. Ele continha a frase em mandarim, a mesma frase com a escrita romana, a sua tradução em inglês e uma tradução de cada um dos símbolos, individualmente. Gravei algumas das frases como se fosse foto no meu celular e criei um pequeno dicionário, como os da foto de abaixo.

mandarim dicionario trotamundostatisato

A verdade pura e dura é que esse dicionário salvou a minha vida porque eu mostrava a frase e os chineses, que são super simpáticos e tentam ajudar no que podem, ainda que não tenham a mínima idéia do que você esteja falando, a liam e me ajudavam.

O fato é que os sons de algumas sílabas são absolutamente impronunciáveis para nós, ocidentais, porque elas não existem em nosso idioma (no caso, o português). Como o vietnamita, o mandarim é um idioma cuja dificuldade, além da óbvia que é a interpretação dos três mil e tantos caracteres, é a pronúncia de cada sílaba: quando dizia Coca Cola (que é ke le), por exemplo, ninguém entendia porque o som deveria vir da garganta. Por essas coisas que é muito útil ter um dicionário e as fotos de algumas palavras e frases importantes! 😉

Lugares

De acordo com o Trip Advisor, Xiamen tem alguns lugares bastante interessantes. De todos os lugares listados, visitamos quatro: o Jardim Botânico (Xiamen Botanic Garden), a ilha de Gulang Yu (onde fomos a dois parques e ao museu do piano), ao templo de Nanptuo e a Universidade de Xiamen.

Além desses lugares, caminhamos pela cidade e tomamos café com um mexicano que conhecemos na noite que chegamos, no único bar que encontramos aberto. Caminhamos por várias ruas do centro e pela feira de comida de rua. Foi ótimo conhecer o Giovanni porque ele, que estava em Xiamen há um mês, conhecia bastante da cidade e foi nosso guia por uma tarde! Uma pessoa ótima e uma benção na viagem!

xiamen ruas trotamundos tatisato (1)

O incrível era a qualidade dos frutos do mar. Em qualquer lugar, todos os frutos do mar, todos os peixes, estavam vivos, até o momento que fossem servidos (inclusive os camarões). Inclusive a comida de rua parecia fresca, embora o nível de higiene fosse, no mínimo, duvidoso.

Jardim Botânico

Decidimos visitá-lo no primeiro dia, quando começou a chover. Programa de índio e programa de gente otária, sei. Mas, em nossa defesa, encontramos o mexicano na noite anterior que nos encontraria lá (01) e segundo a previsão de tempo, choveria todos os dias que estivéssemos em Xiamen. Como a maioria dos programas interessantes era outdoor, colocamos nossas havaianas, compramos sombrinhas e fomos caminhar no Jardim Botânico.

Ilha de Gulang Yu

A melhor atração que fomos. Do hotel, pegamos um ônibus até as docas para pegar o ferry (ou balsa). A balsa, viagem de ida e volta, para a ilha custa CNY 8,00. No entanto, como éramos turistas ocidentais (laowais, como diz minha amiga Christine Marote) que não entendiam uma palavra do mandarim, acabamos comprando um ticket para visitar quatro das atrações da ilha por CNY 100,00 por pessoa.

Acho que o ticket incluía todas as atrações da ilha, mas acabamos visitando somente duas delas: o Sunlight Rock, de onde se tem uma vista incrível de Gulang Yu e de Xiamen, e o Shuzhuang Garden, onde está localizado o único Piano Museum da China e ainda assim valeu à pena.

Vista de Xiamen e de Gulang Yu do Sunlight Rock

Vista de Xiamen e de Gulang Yu do Sunlight Rock

O Shuzhuang Garden é bastante interessante, embora a parte do mar onde esteja localizado esteja bastante sujo, o que é uma decepção. Com suas grutas e passeios, é um lugar bastante agradável, ainda que eu não tenha interesse nenhum pelo Museu do Piano.

Gulang Yu é uma graça de lugar. A cidade é bem pequena, com um centro comercial focado no turismo e muito bonito, lotada de lojinhas lindas e cafés decorados com personalidade; até tomamos chá em uma livraria/casa de chá muito linda e bastante original (MISS ZHAO’S ENGLISH BLACK TEA & BOOKSHOP). A ilha é cheia de subidas e descidas (preparem-se para sair de lá com dor na batata das pernas), com muitas coisas para se ver. Inclusive, a herança arquitetônica do período de dominação francesa é bastante marcante e bastante impressionante.

O passeio a ilha rendeu um dia inteiro: chegamos por volta do meio-dia e saímos de lá depois das 10 da noite. Almoçamos e jantamos frutos do mar, em restaurantes cuja higiene era duvidosa, mas fazer o quê? Estávamos na China! 😉

Templo de Nanptuo

Localizado próximo à Universidade, o templo fica localizado aos pés de uma montanha cuja escalada vale a pena (não terminei o trajeto, mas, até o ponto que cheguei, a vista era linda). O templo budista é muito bonito, localizado próximo a um lago com flores de lótus e centenas de tartarugas.

Em uma das “paradas” da montanha, tomamos chá. O chá é a bebida mais consumida em Xiamen (esqueçam o café… Infelizmente, o café chinês lembra muito o café americano, o que é sempre uma comparação negativa) e foi bem divertido ver como é preparado, como se fosse uma pequena cerimônia. A xícara de chá era tamanho-boneca, mas o chá era bastante saboroso.

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A vista!

A vista!

Universidade de Xiamen

Um dos pontos de atração turística, a Universidade de Xiamen é ampla e muito bonita. É muito agradável caminhar pelas suas amplas avenidas, no meio dos prédios do campus, dos dormitórios e nas suas áreas verdes, que inclui um lago. Vimos várias pessoas com becas, o que foi bastante interessante, já que as becas chinesas são bem diferentes das becas brasileiras.

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Não sei se isso acontece com freqüência, mas no dia que a visitamos (segunda-feira, dia 17 de junho), a universidade só aceitava visitas, de até 300 pessoas, do meio-dia até as 14h e depois das 17h. Como era uma informação que desconhecíamos, não pudemos nos planejar muito bem, o que foi um pouco incômodo (porque poderíamos ter ido à rua de compras na hora do almoço e voltado à área do templo de Nanptuo e da universidade na parte da tarde).

Impressões sobre Xiamen

Preciso começar dizendo que Taiwan e Hong Kong são a China para principiantes porque são cidades onde se pode locomover com bastante facilidade e o inglês é razoavelmente bem entendido (mais em Hong Kong que em Taiwan). Xiamen é uma cidade bastante mais complicada porque pouquíssimas pessoas falam um inglês entendível e quase nenhuma placa ou sinal de rua tem a sua tradução em inglês, o que acontece tanto em Hong Kong (em uma proporção maior) quanto em Taiwan.

Aliás, passei a admirar muito os chineses que saibam falar qualquer idioma ocidental. Depois que vi o dicionário, entendi que não existe uma tradução direta para o chinês de muitas palavras que existem no inglês. Por exemplo, “saída” (ou exit) é representada por dois símbolos, que se traduzem como “caminho fora” (ou way out).

Os chineses, no entanto, eram bastante simpáticos e sempre tentavam ajudar, embora nem sempre conseguissem. Mesmo que as pessoas do albergue fossem bastante gentis, quando perguntamos a eles quais ônibus deveríamos pegar para chegar às docas, a menina respondeu “vários deles vão às docas”. Eu, com minha super paciência, tive que explicar: “olha, nenhum de nós entende o mandarim e se você não falar o número de pelo menos um ônibus que vai às docas e onde devemos pegá-lo, nunca vamos poder chegar”. No fim, ela nos indicou o ônibus número 8. Com essa informação, foi muito fácil chegar ao destino escolhido.

Embora simpáticos, acho que temos que fechar os olhos para o quesito higiene na China. Na ilha de Gulang Yu, comemos em um lugar que parecia um cortiço, mas serviu o melhor camarão que comi na minha vida: cozido com gengibre, o camarão era tão fresco que a pele simplesmente saía em nossas mãos, sem grandes esforços, e era extremamente saboroso.

Na janta, mostrei para o dono do restaurante a frase “onde é o banheiro?”. Encantado, ele me mostrou. O banheiro chinês já é uma coisa um pouco estranha e bastante suja, mas estava preparada para usá-lo. Até que vi, atrás da privada, três sapos verdes e bem vivos, em um balde, dentro de uma rede, me encarando. A cena foi tão surreal que demorei uns segundos para que meu cérebro processasse o que havia visto. Como morro de medo de sapos, pensei que se eles fizessem um único ruído, eu cairia na privada e decidi não arriscar… Para deixar muito claro, os sapos estavam lá para ser a comida de alguém… E como a comida em Xiamen é a mais fresca que vi, eles estavam vivos.

xiamen gulang yu comida trotamundos tatisato

O engraçado é que todos dizem que a China é um país socialista. No entanto, a quantidade de carros ocidentais de luxo é enorme. O Facebook não é permitido, mas os chineses têm sua própria rede social, que parece ser uma mistura do Facebook, do YouTube e do Twitter. Outras redes como o Foursquare, o Instagram e o LinkedIn podem ser acessadas, sem problemas. Para mais informações sobre a censura na China, leiam o que a Chris Marote escreveu no seu blog China na Minha Vida.

A moda chinesa merece um texto a parte. Nem vou comentá-la, mas chapéu com orelha de gato é um pouco demais até mesmo para mim…

Dicas

Levem todos os produtos de higiene que precisarem, inclusive repelente de mosquito. Durante o almoço, em Gulang Yu, levei mais de 16 picadas e todas as vezes que ficava parada, todos os mosquitos da ilha decidiam me atacar. Como não tinha a menor idéia de como se falar “repelente de mosquito” em mandarim, virei almoço, janta, café da manhã e lanche de todos os mosquitos… Terminei a viagem com mais de 100 picadas (isso não é exagero)…

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6 comentários sobre “Um Passeio por Xiamen, China

  1. hehehe. Welcome to the Paradise, dear!
    Vc realmente visitou a China Real. Como diz meu filho, Shanghai é para os fracos…hehehehe
    Obrigada pelo link.. E seu texto está hilário. A cena do banheiro merece completo destaque. Vou republicar esse depoimento no China na Minha Vida, porque às vezes acho que meus leitores devem pensar que sou maluca…hehehe
    Beijo.

    Ah… e coca cola, apesar de em pinyin se escrever Kèlè, vc fala algo como \kàlà\….hehehe… dorme com esse barulho….

    • Haha! Chris, eu amei visitar a China porque parecia que estava em outro mundo!!! Consegui pronunciar “cerveja” (pi jiu) e ate que entendiam quando pedia agua. Mas coca-cola era impronunciavel: so me entenderam no aeroporto e acho que era porque tinham contato com turista…

      Valeu por republicar o texto! Acho que quem nunca esteve na Asia, acha que somos malucas de pedra… Mas as coisas que vemos merecem ser compartilhadas, mesmo que soh quem viveu nessas regioes consegue entender! 😉

      Beijos!

  2. hahahaha Tati foi exatamente um banheiro assim que eu teria que usar na França… Preferi esperar rs!
    A cidade parece ser linda, quem sabe um dia eu me aventuro também pela Asia 😀
    Adorei as dicas do aplicativo, realmente sei ele muita gente chooooora rs…
    E sapo no banheiro bom, ri muito!

    Parabéns pelo texto e a dica do transporte público rs…

    Bjs

    • Bá, a primeira vez que eu deparei com um banheiro assim foi em Taiwan (esqueci de mencionar), em uma estação de metrô. E a minha bexiga travou (o que nunca acontece)… Mas, estando na China, tive que usá-lo algumas vezes…

      O tradutor é a coisa mais importante que eu tomei conhecimento porque, não importa o quanto você tente, algumas sílabas não podem ser pronunciadas por um ocidental. Como a Chris falou, ké lé (que é coca-cola) se fala com um som gutural super estranho!

      Sim… Sapo no banheiro. Quase morri! Haha!

      Obrigada pelos comentários, gata!

      Beijos

  3. Pingback: A China na visão de uma turista. | China na minha vida

  4. Pingback: Então é Natal… 2013 em Retrospectiva | Trotamundos

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