Os 30s são os novos 20s. Bom, pelo menos essa é uma realidade que se aplica a mim e a muitas das mulheres que eu conheço. Com 35 anos recém-completos, me sinto na melhor forma da minha vida, em todos os sentidos. Quando comparo o que era aos 25 anos e o que sou, aos 35, em nenhum momento penso em voltar ao tempo: eu não trocaria o que sou pelo que era jamais na vida.
Aos 30 e tantos anos, tenho tantas dúvidas como tinha aos 20 e poucos. A diferença é que parei de querer entender o motivo de tudo na vida; simplesmente aceitei que algumas coisas na vida simplesmente acontecem e dou risada de coisas que me teriam me deixado brava há uma década. Parei de tentar entender o motivo por trás de fatos banais da vida e sigo em frente, com a cabeça erguida. Posso até reclamar do trânsito, das pessoas sem noção ao meu redor ou do dia lotado de trabalho, mas isso tudo já não ocupa um espaço tão grande na minha vida. Existem coisas mais importantes que passar o dia e a vida me preocupando com coisas que estão fora do meu controle e passei a dar mais importância àquelas que posso controlar como sorrir mais ou ligar para nossos amigos para conversar e tomar um café. Isso não quer dizer que aprendi tudo e que controlo todos os meus sentimentos, mas as coisas que antes tomavam um espaço tão grande na minha vida, o centro do palco na minha peça de teatro, se tornaram coadjuvantes.
Aos 30 e tantos anos, tenho quase a mesma energia dos 20 e poucos e muito mais dinheiro porque, com uma década a mais de experiência profissional, meu salário é muito maior que era. E, como não tenho filhos com quem dividir a renda extra (e, momentaneamente, não os quero), posso investir esse dinheiro nos meus sonhos e nos meus desejos: compro aquele vestido fabuloso que custa um pouco mais caro porque ele simplesmente ficou maravilhoso, invisto naquela viagem de sonhos que antes ficava no mundo da imaginação, combino encontros com amigos em Macau e vou, de vez em quando, àquele restaurante novo do celebrity chef do momento.
Hoje, tenho melhores sapatos, melhores roupas e uma cabeça melhor (como diz a música da Ana Carolina e Seu Jorge, “já sei olhar o rio por onde a vida passa… Sem me precipitar e nem perder a hora. Escuto o silêncio que há em mim e basta”). Como bônus, tenho um corpo melhor porque, há pouco mais de um ano, criei o hábito de ir à academia e os exercícios físicos passaram a fazer parte da minha rotina: se eu não vou à academia por três dias consecutivos, no quarto, os meus músculos começam a doer como se precisassem do exercício.
Claro que aos 30 anos, já vi pequenas mudanças físicas. Algumas vezes, olho as minhas mãos em fotos e penso que elas estão envelhecidas; de repente, aquela ruguinha que não existia apareceu, as marcas de expressões do rosto se tornam levemente mais visíveis e aquelas bolsas de gordura de origem genética embaixo dos olhos fica mais saliente. Tudo isso, no entanto, representa o meu amadurecimento e ainda tenho a pele de criança e não tenho mais espinhas. Além disso, estou muito ocupada vivendo uma vida que eu amo e não tenho tempo para me preocupar com pequenas coisas que são tratadas com meus cremes diários.
A verdade é que o tratamento de pele deve se iniciar aos 20 e poucos anos. E até nisso, ter 30 e tantos parece ser uma vantagem. O cuidado com a pele deveria começar aos 20 e poucos anos para se tornar um hábito. Lembro-me que parecia algo chato ter que me lembrar de limpar a pele com tônico após lavar o rosto com o sabonete adequado e antes de aplicar o hidratante. Aos 30 anos, isso se tornou um hábito e, portanto, é algo que faço automaticamente. De fato, não consigo passar um dia sem limpar o rosto e colocar o hidratante (duas vezes ao dia): a pele do meu rosto praticamente pediria que isso fosse feito, ainda que eu, por algum lapso de memória, esquecesse.
Nesse momento da minha vida, olho para trás e me lembro do tempo, com 20 e poucos anos, que assistia a Sex and the City. Nessa época, pensava que a vida que a Carrie e suas amigas levavam era maravilhosa. Acho que essa série nos mostrou que é possível ter 30 e tantos anos e ser feliz, ainda que tudo que tínhamos planejado aos 20 e poucos não tenha se realizado. Achava a vida delas o máximo e, hoje, ainda que seja uma forma distorcida e em outra cidade, minha vida também é maravilhosa. Ela não é perfeita e, vez ou outra, reclamo das coisas que acontecem. De vez em quando, tenho vontade de passar o dia na cama, chorando e lambendo as feridas. Mas, aprendi a me levantar mais rápido e a seguir em frente. Sim, os 30 são demais!
No dia do meu aniversário, conversava com um grande amigo meu, por Skype (amo essas ferramentas!).
Eu: “Sabe, acho que nós dois somos como vinho. Quanto mais velhos, melhor estamos. Quero dizer, estamos nas melhores formas de nossas vidas! Algumas vezes me pergunto se algum dia vamos nos tornar vinagre…”
Ele: “Só se for balsâmico, não Tati?”
É verdade. Recuso a me transformar em vinagre. E, se algum dia isso acontecer, que ele seja balsâmico vitrificado, de ótima qualidade.
Chegamos à conclusão que ser vinho ou vinagre seja o reflexo de algo que levamos dentro de nós. Algumas pessoas simplesmente nasceram vinagre. Outras amadurecem com o tempo e se tornam melhores, como um bom vinho. Outras jamais amadurecerão: passarão do estágio de vinho-novo ao estágio de vinagre. Acho que acontece…