Todas as vezes que descrevo viagens pelas Filipinas, utilizo dois adjetivos “impressionante” e “difícil de chegar”. Porque, todas as vezes que viajo por aqui, enfrento horas em ônibus ou em uma van ou uma combinação de transportes que varia desde avião-trycicle-barco (como é o caso de Boracay) até ônibus-barco (como são os casos de Puerto Galera e Zambales): em suma, as viagens nunca são curtas, mas sempre valem a pena porque as paisagens são impressionantes.
Nesse último feriado, o da Páscoa, fomos até Ilocos Norte, uma província que fica no mais extremo norte da ilha de Luzon, onde está localizada Metro (poluída) Manila e a maior ilha do arquipélago conhecido como Filipinas. Com essa viagem, oficialmente, posso dizer que viajei ao norte e ao sul dessa ilha embora isso não queira dizer que eu a conheço por completo: falta muito por conhecer.
Fomos até Pagudpud, o extremo norte da ilha de Luzon. Essa viagem, em van, demorou aproximadamente 12 horas e foi absurdamente longa e dura porque, depois de algumas horas, não existe maneira de se acomodar no banco da van e se sentir confortável: a bunda, de alguma forma, fica quadrada e tudo dói. Além disso, estava com o corpo lotado de antibióticos porque, justo na segunda-feira antes do feriado, as bactérias super-legais (#NOT!) decidiram visitar novamente o meu corpo. Como eu não queria perder a viagem por nada, a solução foi me entupir de antibióticos! =)
A viagem foi separada em três etapas: a visita aos moinhos de Bangui, horas de praia e uma caminhada até uma cachoeira (Pagudpud, a Boracay do Norte, Blue Lagoon e Kabigan Falls) e a etapa cultural/de compras (em Vigan, a última etapa da viagem). Poderíamos ter conhecido museus e igrejas em Vigan, no dia que chegamos, mas estávamos tão cansados e com tanta vontade de ir ao hotel e descansar na praia que decidimos pular toda a etapa cultural da viagem e ir direto ao descansar.
Pagudpud é uma praia muito bonita. Particularmente, acho um exagero chamá-la de Boracay do Norte porque sua areia não é tão branca quanto a de Boracay (ela é bege), mas não deixa de ser uma praia linda. Como a maioria das praias nas Filipinas, o mar é impressionante: transparente e de um azul incrível. Passamos o fim da tarde na praia, deitados, entre cochilos e conversas e voltamos ao hotel.
O problema com muitos dos hotéis aqui nas Filipinas é que eles não estão preparados para receber turistas estrangeiros. O quarto era grande (o que era uma vantagem) e tinha ar-condicionado, mas o banheiro era um pouco rústico e precisaria ser limpo com mais freqüência. Quando digo rústico, não se podia tomar banho de chuveiro: tínhamos que encher um balde e, literalmente, tomar banho de canequinha.
Isso é uma prática normal por aqui, mas nós, estrangeiros, não estamos acostumados com isso. O nosso grupo era composto de espanhóis (3), latinas-americanas (3, sendo que 2 eram brasileiras e 1 era peruana) e filipina (1, que ficou louca por nossa culpa!) e a maioria optou por tomar banho em um chuveiro que havia fora dos quartos embora ele gotejasse pela falta de pressão da água.
Visitamos a Blue Lagoon no dia seguinte e ela estava lotadíssima. Localizada em uma baía, a praia assim se chamava porque a água era tão calma que parecia uma lagoa. O problema era que a praia estava hiper-lotada, embora isso era o esperado: a Páscoa é o feriado mais longo nas Filipinas e todos querem viajar.
Um dos maiores problemas, no entanto, não era o fato da praia estar cheia. O problema é que as praias ficam imundas. Havia percebido isso quando fomos a Zambales, mas isso ficou evidente em Pagudpud e na Blue Lagoon: os filipinos, em geral, quando vão às praias, não limpam a sua própria sujeira. Em Blue Lagoon, crianças brincavam com copos plásticos e, tão logo percebiam que não serviam para os seus propósitos, os atiravam para o lado. Nas duas vezes que voltei do mar, saí com copos plásticos e tampas de garrafa; uma amiga que viu um rapaz deixando seu saco plástico de lixo no chão, chamou sua atenção, falando que ele tinha se esquecido de algo.
Apesar disso, as praias filipinas continuam lindas. Isso se deve a falta de exploração do turismo local, o que, para nós, turistas que amamos o lindo, é ótimo. No entanto, se as pessoas não tomarem consciência de que o lixo tem que ser jogado nas latas de lixo – e não deixado na praia, as praias filipinas infelizmente acabarão como uma grande Praia Grande, o que seria uma pena.
Acabamos por almoçar em um resort, bem no fim da praia, chamado Kapuluan Vista Resort. O lugar é um achado. Com quartos compartilhados à partir de PHP 650,00 (algo em torno de EUR 13), o resort oferece piscina e lições de surf (à parte), além de um restaurante de comida de alta qualidade e uma vista lindíssima da praia. Só consigo imaginar o quão maravilhoso deve ser o nascer do sol sentada em uma das suas mesas, com vista para o mar. Infelizmente, como o resort já estava lotado quando fizemos a reserva, não podemos ficar lá… Em uma próxima viagem, quem sabe…
Acabamos o dia com uma caminhada de 30 minutos até a Kabigan Falls. Durante a caminhada, tivemos a oportunidade de presenciar um pôr-do-sol maravilhoso e atravessamos arrozais. Quando saímos da van, perguntei à guia se haveria sapos no meio do caminho e ela disse que não. A verdade é que sempre vão existir sapos em arrozais (e muitos), mas eu preferi me enganar e acreditar na guia – afinal, se eu acreditasse no que sabia ser verdade, eu não iria.

BergBlick, o restaurante alemão, vista das montanhas e dos campos de arroz, o fantástico pôr-do-sol, a caminho da cachoreira, Bangui e os seus moinhos e Blue Lagoon, em frente a Kapuluan Vista Resort
Como fomos o último grupo a chegar à cascata, estávamos sozinhos e nadamos nas suas águas geladas. Se estivesse saudável, isso não seria um problema. No entanto, o frio das águas da cachoeira, o fim do dia e o ar-condicionado da van não foram a melhor combinação para a minha saúde e cheguei ao hotel com um pouco de febre… ='( Ainda assim, fomos jantar em um restaurante alemão chamado BergBlick, o mesmo lugar onde havíamos tomado um café-da-manhã ótimo.
Uma das grandes surpresas nas Filipinas são os vários restaurantes fundados por expatriados aposentados que decidiram escolher as Filipinas como lar. O BergBlick pertence a um alemão e a comida de lá é excelente. No café-da-manhã, embora fosse sexta-feita santa, comi um ovo mexido com batatas, cebola e presunto que estava delicioso! E não continha arroz! 😉 Na janta, pedi carne de porco com molho de cerveja e me pediram o sinigang, que é uma sopa tipicamente filipina que adoro, de peixe (porque estava doentinha…).

Ovos com presunto (foto de cima) e porco (foto à esquerda, abaixo) de Bergblick, o hamburguer de Kapuluan Vista Resort, o Crème Brulee de BergBlick e a empanada de Vigan sendo preparada
Passamos a manhã do último dia da viagem aproveitando os últimos momentos de praia. Deitados na areia ou tomando banho no mar azul turquesa, aproveitamos cada momento até que entramos novamente na van, a caminho de Vigan, uma cidade histórica que fica a quatro horas de onde estávamos.
Localizada em Ilocos Sur, a cidade é uma das únicas heranças da época da colonização espanhola, com seus prédios de arquitetura colonial e ruas de paralelepípedo. Considerada Patrimônio Cultural pela UNESCO, se podem ver nas ruas do centro calesas, pequenas carruagens utilizadas por turistas. Comprei uma manta lindíssima branca (que pretendo colocar na sala) e comi a famosa longganisa de Vigan (ou linguiça de Vigan… A palavra longganisa vem do espanhol, longaniza. Essa é uma entre as mais de 3000 palavras de origem espanhola que fazem parte do tagalog) que é cheia de alho e não é nada doce. Em resumo, é deliciosa!
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Contratamos o tour através de um site. O Chris Molina foi nosso guia durante a viagem até Blue Lagoon e da volta de Pagudpud até Manila. Ele foi ótimo e tudo que queríamos, fizemos. O tour custou PHP 5.000,00 (aproximadamente EUR 100,00 ou R$ 200,00) e incluía a viagem de Manila até Pagudpud, os toures (inclusive as entradas) e as duas noites de hotel. Pagamos a comida a parte. Eu, que nunca economizo em viagem alguma, gastei, aproximadamente, PHP 10.000,00 entre o pacote, comida, bebidas, compras e remédios. 😉
Como eu jamais farei essa viagem novamente em van, decidi pesquisar preços de passagens aéreas. A Cebu Pacific tem um vôo por dia para Laoag, a cidade mais próxima a Pagudpud (fica há duas ou três horas) e, se comprada com antecedência, a passagem sai por menos de PHP 4.000,00. Honestamente, pelo conforto, eu diria que vale a pena.
Não sei como se faz para ir de Laoag até os resorts. Acho que isso deve ser negociado, como tudo por aqui.
BergBlick: Restaurante alemão localizado em Pagudpud. Não tenho idéia de como se faz para chegar lá, mas a comida é deliciosa!
Kapuluan Vista Resort: Estilo surfista, juro que gostaria que tivéssemos ficado nesse hotel. Com um restaurante lindo, a comida é bem caseira e natural. O restaurante faz o seu pão do hamburguer que serve e, embora o hamburguer de frango que eu pedi estivesse um pouco seco (pedimos maionese a parte. Aqui, nas Filipinas, tudo tende a ser doce, inclusive a maionese. E, para evitar surpresas desagradáveis, decidi que queria a minha fora do sanduíche), as outras comidas servidas tinham muito sabor e qualidade.
Conversei com a dona do resort que me disse que uma cama em um quarto compartilhado sai por PHP 650 a noite e um quarto privado para até quatro pessoas sai por pouco mais de PHP 4.000,00. Não vi os quartos, mas pelo restaurante e pelo banheiro, acredito que fossem limpos e agradáveis. Ponto para o resort!
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