Março foi um mês de muitas mudanças em minha vida. Eu abri espaço na minha agenda de amante-do-sofá (ou melhor, da minha cama) e me tornei um membro ativo da academia perto de casa, frequentando-a de três a quatro vezes na semana. Recebi o meu kit de estudos e recomecei (embora em passos lentos de tartaruga preguiçosa) meus estudos para me tornar uma contadora. Coloquei meus músculos (do corpo e do cérebro) para funcionar e me sinto bem com isso. E ainda tenho tempo para seguir as séries que sou super viciada.
Acho que estou tentando encontrar um equilíbrio nisso tudo. Assistir às minhas séries, praticar exercício físico algumas horas por semana, estudar um pouco e ver amigos preencheram meus dias durante o mês de março. Claro que isso tudo foi entremeado por horas de trabalho (forçado, como se eu fosse um presidiário, conto meus dias para sair… Que dramática! Haha!), tempo no FB, momentos dedicados aos meus posts e trabalhos de casa diários (que tipo de dona de casa desesperada eu seria se eu não tivesse tempo de enfrentar meu “tanquinho” de tempos em tempos?). De forma geral, foi um mês bem ocupado. Ainda assim, parecia que me faltava alguma coisa. Ou que algo estava… Estranhamente fora de lugar.
Eu não sei explicar essa sensação maluca. Sinto uma certa ansiedade dentro de mim, como se mais mudanças estivessem por vir. Eu entendo que nossas mentes estão lotadas de pensamentos e frequentemente divagamos, revivendo um passado que nunca voltará ou desejando um futuro que pode não chegar. Frequentemente, nossas mentes estão em todas as partes menos aqui.
Há algum tempo eu entendi que isso não é uma forma de viver e, de alguma forma, o monstro na minha cabeça que me arrastava ao passado ou me fazia imaginar o futuro adormeceu, entrou em um estado de coma que me permitiu encontrar um pouco de paz. Eu não digo que a ansiedade jamais me atingiu outra vez (afinal, estou super longe de tornar esse monge budista super zen) – de vez em quando, me atinge sim; o monstro sempre se desperta de tempos em tempos. O que eu quero dizer é que hoje em dia é muito mais fácil reconhecê-lo quando ele decide abrir seus olhos. O que eu acredito que tenha acontecido há pouco tempo.
Há pouco mais de um ano, fui a uma excursão com amigos ao Monte Pinatubo e escrevi um e-mail para os meus amigos mais íntimos sobre essa experiência. Eu tentarei re-escrevê-la aqui porque acredito que é o que eu necessito.
Para aqueles que não sabem, o Monte Pinatubo é um vulcão ativo localizado nas Filipinas. Ele entrou em erupção em 1991 devido a um terremoto que aconteceu nesse país (todas as vezes que leio algo sobre “vulcões ativos”, “atividade sísmica” ou “terremoto”, somados aos mosquitos-comedores-de-gente que existem por aqui, eu me pergunto o que eu faço aqui… Bem…). Entre as consequências da erupção, a temperatura da Terra caiu 0,5º (meio grau) no ano seguinte, milhares de casas foram destruídas e milhões de pessoas foram afetadas. E um lago de cratera maravilhoso foi criado, inicialmente altamente ácido e quente, diluído e esfriado pelas subsequentes chuvas.
Aqueles que me conhecem sabem que eu não uma pessoa “outdoor”: eu não sou conhecida por ser amante de trekkings, uma expert em escaladas ou uma pessoa de acampamentos (não entendo a idéia de diversão por trás de dormir em tendas de acampamento, ter que fazer meu próprio fogo e não ter um chuveiro decente para limpar a sujeira… É algum tipo de volta a origem dos tempos?). Ainda assim, estava super empolgada com a aventura que eu iria, mesmo que tenha dormido pouco e que consistia em uma hora em uma jeep 4×4 em uma estrada offroad e 45 minutos de caminhada no meio da mata.
Naquela jornada de uma hora no meio do nada, eu descobri o real significado de Rocky Road que não é só o nome de um sorvete feito de chocolate, nozes e marshmallow (OK, essa piada funciona um pouco melhor em inglês). A estrada que estávamos era realmente offroad (e, literalmente, rocky): passamos por rios, montes, pedras e muita, muita, muita poeira. Acreditei tantas vezes que eu seria ejetada do carro que meus braços começaram a doer pela força que me segurava ao meu assento. Meu cabelo ficou tão cheio de poeira vulcânica que parecia um capacete mais que qualquer outra coisa (eu tive que lavá-lo três ou quatro vezes para que se tornasse levemente mais macio outra vez). Após essa hora, ainda tínhamos 45 minutos de caminhada no meio do mato, pisando em pedras até que chegamos ao Lago Pinatubo.

A estrada… Ou melhor, o caminho que o motorista do jeep escolheu porque, obviamente, não existe estrada…
O lugar é incrível, um pequeno paraíso na Terra. Suas águas azuis esverdeadas são uma recompensa para aqueles que estão dispostos a percorrer todo o caminho. A beleza do lugar impressiona e vale muito a pena visitá-lo se você estiver disposto a percorrer um caminho de pedras e andar por 45 minutos no meio do mato…
Durante a jornada, do momento que entramos no jeep ao momento que chegamos ao lago, eu lidei com a minha própria ansiedade. É engraçado como sempre somos crianças: quando vamos a um lugar que não conhecemos, sempre fazemos as mesmas perguntas: “já chegou? Falta muito?”. É um velho hábito que não muda: quando estamos em uma estrada desconhecida, as perguntas são sempre as mesmas. E eu acredito que o nome disso é ansiedade.
A verdade é que não apreciamos o caminho: queremos chegar ao destino, onde quer que isso seja. Eu percebi isso, quando comecei o caminho até o Lago Pinatubo. Descemos um morro coberto de pedras soltas, caminhamos no meio do mato e eu pensava “Meu Deus! Será que falta muito?”
Acredito que é algo que fazemos constantemente em nossas vidas. Algumas vezes, caminhamos por estradas tortuosas e, não importa o quão bonita ela seja (embora tortuosa), sempre queremos chegar a algum lugar. Na minha jornada de 1 hora e 45 minutos, eu sabia que chegaria ao Pinatubo. Eu sabia que seria um lugar maravilhoso. Mas eu também sabia que precisava aproveitar o caminho inteiro até chegar ao destino. Então, todas as vezes que ficava muito ansiosa sobre chegar em algum lugar, todas as vezes que as perguntas tão conhecidas começavam a surgir em minha mente, eu deixava com que passassem “Ainda temos que caminhar muito?” “Eu não sei… Talvez. Olha, que árvore bonita!” “Estamos chegando?” “Eu não sei… Aproveita o caminho!”
Talvez, nesse exato momento da minha vida, eu sinta que as coisas estão para mudar, que o vento está para mudar outra vez. E o monstrinho chamado ansiedade começa a se despertar, outra vez. Talvez, mais que nunca, seja a hora de olhar para baixo, de observar a beleza das pedras do caminho, de olhar ao meu redor e ver a beleza do cenário que está a minha volta, nesse momento. Assim, quem sabe eu não consiga distrair a atenção do monstro e focar no tempo que é realmente importante. Porque, como diz a canção, o que será, será. E, me pergunto: qual o objetivo de perder tempo, energia e pensamentos em questionar algo que simplesmente ainda não é?
PS: Acho que volto ao Lago Pinatubo em maio! YAY!